Por Dane Avanzi, advogado, especialista em telecomunicações e presidente do Instituto Avanzi
Se as operadoras venderem mais serviços do que sua capacidade de antenas e equipamentos pode suportar, o 4G, quarta geração da telefonia móvel, pode não ser essa maravilha que prometem.
A tecnologia do serviço móvel privativo 4G, quarta geração da telefonia móvel, também chamada de Long Term Evolution, foi recentemente disponibilizada por algumas operadoras nas cidades sede da Copa das Confederações. Para entendermos o que de fato muda no cotidiano dos usuários, é preciso conhecer alguns conceitos e um pouco do processo histórico evolutivo deste setor no Brasil.
O serviço de telefonia móvel foi implantado no início da década de 1990 com a faixa de frequência de operação do sistema iniciada em 800 mhz até 900 mhz. Nesse período, todas as teles eram estatais e o sistema possuía alto grau de confiabilidade e qualidade, embora fosse caro e somente uma parte da população pudesse pagar por ele, que na época veio para substituir o sistema de radiochamada, ou simplesmente pager. A tecnologia era CDMA, Code Division Multiplex Access, que disponibilizava apenas a aplicação de chamadas de voz aos usuários. Podemos dizer que historicamente foi nosso 1G, ou primeira geração de celular.
Com o objetivo de universalizar o serviço e tornar o acesso possível à população em geral, em 1997 foi criada a Anatel, agência reguladora responsável pela criação de normas e regras para o setor. Nos anos seguintes, idos de 1998 a 2000, iniciou-se o processo de privatização das teles e, ato contínuo, a criação das empresas “espelho”, com intuito de quebrar o monopólio das operadoras recém-privatizadas e criar o ambiente competitivo que propiciou a queda no preço do serviço. As consideradas “espelho”, na época foram leiloadas com o nome de banda “b”, e entrava em operação a faixa de 1,8 e 1,9 GHZ, com uma inovação: a possibilidade de trafegar pequenos pacotes de dados. A tecnologia da segunda geração era TDMA, Time Division Multiplex Access.
Sem dúvida, o grande salto qualitativo em termos de funcionalidades e aplicações foi dado com a implantação da terceira geração de telefonia móvel, ou simplesmente 3G. Essa tecnologia foi desenvolvida por organismos de padronização que congregam operadoras, fabricantes e entidades de padronização regionais, dentre outros, sob a luz de um projeto específico criado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), denominado à época Programa IMT-2000.
Duas famílias de tecnologias 3G emergiram como as dominantes e foram comercialmente implementadas no mundo, a UMTS (padrão desenvolvido pela 3GPP – Third Generation Partnership Project) e a CDMA 2000 (implantado pela 3GPP2 – Third Generation Partnership Project 2) . Essa tecnologia permitiu o acesso a rede mundial de computadores em banda larga e utilizou em grande parte a tecnologia GSM, Global System for Mobile Comunication, que veio sendo aprimorada na europa desde a primeira geração de telefonia móvel. Hoje esta é a plataforma mais utilizada no mundo.
Eis que agora chega a 4G para substituir a 3G, com a promessa de velocidade de navegação na internet até 10 vezes maior, segundo propaganda de algumas operadoras. Estranhamente o Brasil adotou a faixa de 2,5 GHZ para a tecnologia cuja maior eficiência comprovadamente ocorre na faixa de 700 mhz, fato que provocará problemas na operação dos usuários em ambientes Indoor (recintos fechados). Cabe aqui um parêntesis para explicar o que é velocidade nominal e o que é velocidade real.
Velocidade nominal é aquela testada em laboratório com parâmetros e condições favoráveis, já a velocidade real é a medida em campo, com o smartphone de sua operadora que pode variar drasticamente, dependendo da concentração de usuários da mesma operadora acessando o mesmo serviço na mesma torre. Resumindo: se as operadoras venderem mais serviços do que sua capacidade de antenas e equipamentos pode suportar, o 4G pode não ser essa maravilha que prometem.
Outra informação que fica despercebida nas propagandas é que o serviço somente estará disponível em algumas regiões de algumas cidades e para acessar o sistema é necessário ter um smartphone compatível com a nova faixa de frequência. Cabe salientar que a tecnologia 1G e 2G foram implantadas com equipamentos de infraestrutura de primeira linha, marcas tradicionais. Já as redes 3G utilizam equipamentos que passaram a custar 10% do valor original de uma marca chinesa que dominou o mercado pelo preço baixo e não pela qualidade.
A conta é simples. Para se prestar o serviço a mais de 200 milhões de linhas, faz-se necessário que a infraestrutura do sistema esteja dimensionada em quantidade de torres e equipamentos, se não o sistema entra em colapso. Para recuperar a qualidade, é importante que as operadoras se preocupem em resgatar sua imagem perante o consumidor agindo com mais sobriedade e comprometimento com a qualidade do serviço. Para aqueles que não vivem nas cidades sede da Copa das Confederações, perto de uma das torres equipadas com o 4G e com o smartphone de última geração, hoje, a implantação dessas poucas torres e antenas não muda em nada.