O que acontece quando uma palavra que tecnicamente está em nosso vocabulário há pouco tempo, como fakenews, se une a um já conhecido e perigoso tema institucionalizado no Brasil, como o racismo? A resposta para esta pergunta é complexa, mas é algo que o jovem ilheense Tarcísio Emanuel, morador do Nelson Costa, conheceu e está vivenciando de perto.
Há três meses, Tarcísio, de 21 anos, conseguiu um emprego de consultor de vendas em uma empresa de telefonia e internet. Segundo ele, é comum nessa função sair para oferecer os planos de porta em porta. “A gente sai nos bairros, visita comércios, visita casas, para explicar melhor como funciona nossos planos.”
No dia 12 de Julho, Tarcísio estava fazendo dupla com seu irmão para treiná-lo, pois ele também foi contratado pela empresa. Por ser seu primeiro dia, o irmão ainda estava sem o uniforme da empresa. “Mas eu estava com crachá e com a camisa da empresa, não sei por que me acusaram de estar fingindo me passar por vendedor” conta indignado.
No dia seguinte, Tarcísio ficou sabendo por uma prima, que estavam circulando imagens deles, e um áudio de uma moradora do Pacheco. “No áudio ela fala para as pessoas ficarem atentas que tinham essas pessoas batendo nas casas e que com certeza era para assaltar.”
Isso deixou Tarcísio muito preocupado e ele foi imediatamente até a delegacia prestar uma queixa, ele também conta que procurou um advogado. “Quando eu fui ver aquilo já estava sendo postado em várias redes sociais, no whatsapp e também no facebook” disse.
De acordo com Tarcísio, seu emocional está abalado. Ele conta que ficou com medo de sair nas ruas e as pessoas o reconhecerem pelas fotos e querer linchá-lo ou fazer alguma maldade com ele.
Outro medo que ele revela ter, é de sair pra trabalhar. Desde o ocorrido ele tem feito home office, orientado pelo advogado. Segundo o jovem, a empresa não se manifestou oficialmente diante do ocorrido, apenas o seu supervisor ajudou a criar a postagem na qual identificava que a notícia que estava sendo espalhada era falsa.
De acordo com Edson Mendes Nunes, autor do livro: “Mídia, fake news e racismo”, a construção da imagem do ‘bandido’ associado a pessoas negras relaciona-se com a destruição da memória do indivíduo, buscando legitimar a ação violenta para restabelecimento de uma suposta ‘ordem’.
“Eu tenho certeza que eu fui vítima de racismo, por que no áudio ela fala: a bandidagem começou a subir a ladeira. Ou seja, por que eu sou negro, meu irmão é negro também, viu a gente subindo a ladeira e batendo nas casas já foi logo acusando que éramos assaltantes” lamenta.
É necessário compreender que a forma não oficial de mídia, atuante nas redes sociais, é muito perigosa. Por isso, antes de compartilhar é fundamental nos tempos atuais que saibamos como identificar fake news e a evitá-las para que você não se torne um instrumento de disseminação de mentiras em seu círculo de amigos.
Da redação: Por Graci Sá