Ilhéus, cidade localizada no sul da Bahia, é um dos destinos turísticos mais procurados do estado, recebendo anualmente milhares de visitantes de diversas partes do Brasil e do mundo. Ser banhada por lindas praias, ter um ciclo de cultura do cacau e histórias de Jorge Amado, dignas de teledramaturgia, fazem desse conjunto de rochedos à beira-mar, um lugar iluminado.
Entretanto, a realidade não é florida e o transporte público na cidade é bastante precário, gerando insatisfação entre moradores e turistas que dependem do serviço e, com certeza, não se deleitam com esses elogios a bordo de um ônibus lotado.
O serviço de transporte coletivo urbano em Ilhéus foi introduzido na década de 1920, com a abertura de uma concorrência pública para o transporte em veículos na zona urbana e suburbana da cidade. Na época, os “auto-ônibus modernos e elegantes” prometidos pelo então intendente Mário Pessoa eram uma grande novidade. Quase um século depois, o transporte público em Ilhéus ainda enfrenta diversos problemas.
A importância de um transporte público de qualidade é inegável. Além de garantir o direito de ir e vir dos cidadãos, o transporte público é fundamental para o desenvolvimento das cidades. Um serviço eficiente e acessível contribui para reduzir o tráfego de veículos particulares, diminuir a poluição e melhorar a qualidade de vida dos moradores.
Historicamente, o transporte público de qualidade é um tema de muito debate e indignação, sendo fraco em política pública em vários governos. O resultado é um serviço precário que não atende às necessidades da população, afetando a economia, o turismo e a qualidade de vida da população.
A infraestrutura urbana está diretamente relacionada à mobilidade urbana. O modo como a cidade é estruturada, como as vias são dispostas, como os bairros são organizados, influencia diretamente a maneira como as pessoas se deslocam dentro dela. A ponte Jorge Amado, em Ilhéus, mudou um pouco o cenário em relação a engarrafamentos de quem mora na zona sul e trabalha no centro.
A primeira ponte estaiada da Bahia foi construída com um investimento de cerca de R$ 100 milhões. A ponte tem uma extensão de 533 metros e uma largura de 25 metros, abrangendo um sistema viário com 2,7 quilômetros. Ela possui quatro pistas de rolamento para veículos, uma ciclofaixa e uma faixa para pedestres. A construção da ponte beneficia aproximadamente 511 mil pessoas que residem nas cidades de Ilhéus, Itabuna, Una, Canavieiras, Buerarema, Itacaré e Uruçuca.
Mas será que a mudança é de fato significa uma real melhora, para usuários de coletivos? O transporte público é um tema importante para as cidades, pois ele pode ser um dos grandes responsáveis por garantir a mobilidade urbana de seus habitantes, especialmente daqueles que não possuem recursos para adquirir um veículo particular. Partindo desse ponto, adentramos na seara da qualidade das carruagens, ou, nesse caso, a falta dela.
Do que adianta uma bela ponte e lindas asfaltadas (nem sempre), se o veículo é sucateado? As empresas de ônibus da cidade, simulando Regina Duarte, se acham rainhas da sucata. Não há o que se orgulhar de pontos turísticos, se a população é constante humilhada e ainda são cobradas, com tarifas abusivas.
Felizmente, existem cases de sucesso em transporte público no Brasil que podem servir de inspiração para Ilhéus e outras cidades que enfrentam problemas semelhantes. Curitiba, por exemplo, é conhecida mundialmente pelo seu sistema de transporte público integrado, que inclui ônibus expressos, terminais de integração e uma rede de ciclovias. O resultado é um serviço eficiente e acessível que é referência para outras cidades do país.
Dados estatísticos mostram que há uma relação clara entre renda e diversidade/quantidade de viagens, assim como entre renda e uso de transporte individual. Isso significa que as pessoas de renda mais alta tendem a usar mais o transporte individual, o que tem um impacto significativo no trânsito e na mobilidade urbana. Portanto, investir em transporte público de qualidade é uma forma de democratizar o acesso à mobilidade e reduzir a desigualdade social.
Além disso, pensar as cidades sociopoliticamente é fundamental para garantir um transporte público eficiente e acessível. A disposição física das construções e áreas de uso público, as horas de operação das atividades e a oferta de meios de transporte são alguns dos fatores externos que influenciam as decisões individuais sobre como a necessidade de mobilidade será atendida.
Em suma, a situação do transporte público em Ilhéus é uma questão que afeta não apenas a mobilidade urbana, mas também a qualidade de vida dos moradores e o turismo na região. É necessário investir em soluções eficientes e integradas, inspiradas em exemplos bem-sucedidos em outras cidades, para transformar a realidade do transporte público em Ilhéus.
Assim como a lavoura do cacau passou por desafios e crises ao longo dos anos, mas se reinventou e se tornou um símbolo de prosperidade e desenvolvimento para a região, o transporte público precisa passar por uma transformação. Isso é necessário para atender às necessidades e expectativas da população e ser um pilar do desenvolvimento urbano sustentável.
É hora de plantar as sementes de uma mobilidade mais eficiente, acessível e inclusiva em Ilhéus. Desse modo, poderemos colher os frutos de uma cidade mais justa e próspera no futuro.