O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que surgiu no Brasil nos anos 1980, sempre teve como principal objetivo a luta pelo direito à terra. Diante da histórica desigualdade fundiária no país, o movimento busca tornar realidade a função social da terra prevista na Constituição. Ao longo de sua atuação, o MST organizou mais de 350 mil famílias, criando comunidades agrícolas, cooperativas, fazendas, agroindústrias, pequenas empresas de processamento de alimentos e mercados de produtores.
Recentemente, o movimento passou a focar na educação e capacitação em práticas agroecológicas como estratégias para promover mudanças significativas. Isso inclui a criação de centros de treinamento em agroecologia para seus membros e interessados, comprometendo-se com a sustentabilidade e a justiça social.
No município de Arataca, a Fazenda Jassy, propriedade da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), foi ocupada por mais de dez anos por famílias de agricultores sem terra que dependiam do local para sobreviver. Em busca de uma solução pacífica e justa, a UESC, por meio de sua Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) e da Procuradoria Jurídica (PROJUR), estabeleceu uma parceria inovadora com os assentados. Esse acordo resultou no Projeto de Fazenda-escola, que será coordenado pela Coordenação de Integração Comunitária (COINC) e envolverá vários setores da universidade e da sociedade.
Durante reuniões na Fazenda Jassy, lideradas pelo Vice-Reitor Maurício Moreau, pelo Pró-Reitor de Extensão Cristiano Bahia, pelo Procurador Jurídico José Messias Dias e pelo Coordenador de Integração Comunitária Emerson Lucena, foi realizada uma escuta ativa com as lideranças do assentamento. Juntos, eles desenvolveram o conceito de uma Fazenda-Escola, adequada para práticas agroecológicas e fundamentada na educação popular, um dos pilares da pedagogia da Educação do Campo. O objetivo é promover uma visão crítica do mundo através do ensino, pesquisa e prática extensionista, transformando as relações socioambientais e contribuindo para o desenvolvimento humano.
A UESC, por meio da PROEX/COINC, está avançando significativamente no apoio à produção sustentável. Promovendo um modo de vida digno para os produtores rurais e camponeses, assim como para os consumidores que buscam alimentos mais saudáveis, a universidade adota a agrofloresta como método de diversificação da produção. Essa prática traz benefícios ambientais e permite uma produtividade sustentável a longo prazo. A integração de cultivos proporciona estabilidade financeira aos agricultores, preços mais justos e alimentos mais nutritivos, contribuindo para a saúde pública e ambiental. Além disso, a agrofloresta fortalece as economias locais e regionais e preserva recursos naturais essenciais, como rios e nascentes, garantindo o equilíbrio dos ciclos hidrológicos.
A Fazenda-Escola desempenha um papel crucial no ensino prático, extensão universitária e pesquisa em agricultura e áreas relacionadas. Sua importância se destaca em vários aspectos:
1. Experiência prática: Oferece aos alunos uma experiência direta no campo, complementando o aprendizado teórico e desenvolvendo habilidades essenciais para sua formação profissional.
2. Pesquisa aplicada: Permite a realização de estudos práticos, desenvolvendo soluções inovadoras para os desafios agrícolas.
3. Transferência de tecnologia: Facilita a disseminação de conhecimentos e técnicas modernas para os agricultores locais.
4. Preservação do conhecimento tradicional: Valoriza e integra saberes ancestrais com práticas contemporâneas.
5. Educação ambiental: Promove a conscientização e práticas sustentáveis entre os estudantes e a comunidade.
6. Desenvolvimento comunitário: Fomenta o progresso socioeconômico das comunidades rurais através da educação e da produção sustentável.
A Fazenda-Escola Jassy será um importante espaço para ensino, extensão, pesquisa, transição agroecológica e desenvolvimento regional, contribuindo para o avanço sustentável do setor agrícola e para o bem-estar das comunidades rurais locais.