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MALU FONTES: CAETANO, O BANANA DE PIJAMA DE PIOVANI

Por Malu Fontes,  jornalista e professora de jornalismo da Ufba

malu fontesBem disse texto recente e apócrifo da Folha de S. Paulo sobre os ataques e o pedido de perdão de Caetano a Roberto: “O homem que cantou, ao lado de Jorge Mautner, que não pede desculpa nem perdão, terminou o texto desta semana em tom transigente: ‘Eu tinha feito muito esforço para defender a parte que acho defensável de uma causa que me estranha. Peço perdão’”. Luana Piovani sabe, há muito tempo, que os versos de Caetano com Mautner nunca eram tão pra valer assim.

Quem deve estar rindo à toa cada vez que Caetano Veloso diz um A sobre a polêmica das biografias e na semana seguinte tem que dizer o resto do alfabeto inteiro para desdizer-se é a atriz Luana Piovani. Famosa por, para além da beleza, nunca ter tido papas da língua para soltar os cachorros contra quem quer que seja, Luana, para quem não lembra, lá pelos idos de 2007, disse que Caetano, a quem antes considerava como um deus, não passava de um banana de pijama. Para refrescar a memória dos esquecidos, Caetano compôs a canção erótica Um Sonho, do disco Cê, inspirando-se na atriz e, assim que pôde – afinal que graça teria não contar? –,  fez tal revelação para a moça. Um dos versos mais pueris da canção diz coisas do tipo “Lua, fruta, flor, folhuda… teu talho/meu malho/teu talho/meu malho”, terminando com a frase “jabuticaba branca”, uma referência à lourice da musa e à sua cidade natal, Jabotical, interior de São Paulo.

 Radiante com tamanho presente do ídolo, Luana não pensou duas vezes, não o tomou como segredo e anunciou a confissão do ídolo num post em seu blog. Por alguma razão que só os diabos domésticos poderiam confirmar, a postagem não desceu bem na vida pessoal de Caetano e ele foi forçado a ter, digamos assim, a deselegância de desmentir a atriz em público, sob o argumento de que jamais faria uma canção erótica para uma mulher com quem sexualmente nada tivera. Mexeu, claro, com os diabos de Luana, que o destronou do lugar de deus e afirmou que um homem de 65 anos (então a idade de Caetano) que faz uma galhofa desse porte, desmentir o que ele mesmo havia dito-lhe, não passava de um banana de pijama. Não seria nada e ficaria o dito de Luana pelo desdito de Caetano não fosse, apenas algumas semaninhas depois, em um dos shows da turnê do disco Cê, o cantor voltar atrás e confirmar que, sim, fizera mesmo a canção “parcialmente” inspirada na atriz. 
 
Assim, entre os ditos e os desditos de Caetano e, principalmente, os ataques dirigidos a Roberto Carlos na coluna que assina aos domingos, não há como não ressuscitar a tese de Piovani. Afinal, por que raios um homem maduro compra briga com Deus e o mundo numa semana, parte para cima do amigo unha-e-cutícula Roberto Carlos, transforma, inclusive, seu estatuto de “Rei” em adjetivação desqualificadora e, na semana seguinte, volta atrás pedindo perdão a Roberto, dizendo que, mesmo que o autor de Debaixo dos Caracóis nunca mais queira vê-lo, ele, Caetano, continuará amando-o e respeitando-o por todo o sempre-sem-fim-amém por um dia ter composto os Caracóis e Esse Cara Sou Eu? 
 
Aliás, a escolha dessa segunda canção como razão do amor eterno por Roberto deve ser influência dos laços profundos de amizade entre Paulinha (a Lavigne, mãe de seus filhos, gurua e, verdade seja dita, meso responsável pela queda nos índices de popularidade recentes do ex-marido), e Glória Perez, a novelista que catapultou a canção para o posto de hino de cabeceira das moiçolas românticas que ainda restam nesses tempos em que virgindade se leiloa na internet e em que basta se fazer passar por um dançarino de pagode num perfil invadido de rede social para levar mocinhas para a cama do primeiro motel barato. Bem disse texto recente e apócrifo da Folha de S. Paulo sobre os ataques e o pedido de perdão de Caetano a Roberto: “O homem que cantou, ao lado de Jorge Mautner, que não pede desculpa nem perdão, terminou o texto desta semana em tom transigente: ‘Eu tinha feito muito esforço para defender a parte que acho defensável de uma causa que me estranha. Peço perdão’”. Luana Piovani sabe, há muito tempo, que os versos de Caetano com Mautner nunca eram tão pra valer assim.