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UM ANO ANTES DAS ELEIÇÕES, PARTIDOS BUSCAM ESTRATÉGIAS CONTRA ATAQUES VIRTUAIS

ÚLTIMO SEGUNDO
Com a memória da batalha virtual de dossiês e sites apócrifos das eleições de 2010, os partidos começaram a se mobilizar a um ano da eleição para combater e minimizar possíveis ataques virtuais na próxima disputa.
Para fortalecer as redes de simpatizantes que vão ajudar a blindar suas candidaturas, tanto a presidente Dilma Rousseff (PT) quanto o presidenciável Aécio Neves (PSDB) retomaram as atividades nas redes sociais. No PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva passaram a explorar ferramentas de interação na rede para convidar internautas a debater ideias nos sites da sigla e da Rede Sustentabilidade.
A comunicação virtual de Campos está nas mãos do argentino Diego Brandy, dono da estratégia que alavancou as curtidas do perfil do governador de Pernambuco no Facebook. Além de aumentar a adesão à página de Campos, o partido também trabalha em uma plataforma on-line para os filiados, em que eles poderão, com uma senha pessoal, ajudar a definir a posição da bancada em votações da Câmara. Com a chegada de Marina e o batalhão de internautas da Rede, o partido ainda espera agregar o know-how dos militantes que usaram a internet para mobilizar a criação da sigla. O presidente do PSB-SP, Márcio França, acredita que a verdadeira militância gratuita hoje acontece na web. “E nesse mundo tem uma vantagem: a causa é maior que a estrutura. As coisas crescem naturalmente, e não adianta pagar ninguém”, avalia.
De acordo com a assessoria de imprensa do PSB, Campos ainda não tem sido alvo de ataques baixos. Por enquanto, eles se resumem a comentários mal educados ou com palavrões no perfil do governador no Facebook.
A avaliação do PSB é que o tiroteio entre PT e PSDB é resquício das baixarias de 2010, mas sabe que o governador de Pernambuco vai inevitavelmente entrar na mira à medida que suas chances de vitória aumentarem. Para isso, o partido elaborou estudos e pretende criar uma política exclusiva para a rede.
Apesar de Aécio defender a criação de um “bunker virtual” contra agressões e críticas na rede, o PSDB ainda engatinha na estruturação de um grupo forte de defesa nas redes sociais. A ideia é monitorar 24 horas plataformas como Twitter e Facebook, além das notícias sobre o presidente do PSDB. A coordenadora de comunicação do partido, Adriana Vasconcelos, diz que a sigla começou agora a reestruturar suas ferramentas online, como o próprio site. Nos perfis oficiais, segundo ela, a orientação é que eles tenham uma ação “propositiva”.
Em São Paulo, o presidente estadual tucano Duarte Nogueira já começou a mobilizar voluntários para atuar nas redes. Recentemente, o partido realizou um treinamento para 200 “multiplicadores” das redes sociais, com o objetivo de padronizar o combate a ataques e pensar em propostas para a área virtual do partido. Nogueira disse que o treinamento vem de uma mudança de posição da sigla no Estado em relação à internet. Ele diz ter enfrentado seu próprio ceticismo sobre a influência das redes na formação de opinião do eleitorado, principalmente em relação a ataques, e diz que a estratégia do partido agora é priorizar a internet tanto quanto rádio e TV. “O internauta não quer a caracterização do opositor, ele quer propostas. A nossa preocupação não vai ser atacar nem fazer proselitismo, mas usar o espaço para ampliar as propostas”, diz.
Militância na rede – No PT, a ordem é evitar surpresas como a de 2010, quando o partido acordou tarde demais para a onda subterrânea de ataques – na maior parte inverídicos –contra a então candidata Dilma Rousseff. “Não vamos ser pegos no contrapé como em 2010”, garantiu o vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, responsável por coordenar a mobilização online do partido.
O PT quase foi pego no contrapé outra vez com as manifestações de junho. Em abril, pouco antes da onda de protestos, o partido intensificou a presença nas redes sociais e obteve resultados significativos. O perfil no Facebook subiu de 20 mil para 60 mil seguidores e a página não oficial de Dilma administrada pelo partido foi de 13 mil para 104 mil.
O partido conta com uma equipe reduzida em Brasília que trabalha na manutenção das páginas nas redes sociais com dois focos principais: divulgar informações de interesse do partido e rebater inverdades publicadas na grande mídia.
Segundo Cantalice, o PT dispensa a contratação de uma grande estrutura porque conta com ajuda dos militantes do partido nas redes sociais. “A gente tem a vantagem dos militantes que nos ajudam neste jogo. Eles transmitem as notas que o PT divulga e nos alertam sobre ataques”, disse ele. “O militante gosta quando o partido responde aos ataques e vai para cima”, completou. Algumas postagens, principalmente as referentes ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chegam a ser replicadas 300 mil vezes no Twitter.
Depois dos sustos em 2010 e em junho deste ano, o PT passou a tratar a comunicação como prioridade absoluta. “A maior aposta do partido para 2014 depois da reeleição de Dilma é estabelecer uma política de comunicação de massa”, afirmou Cantalice.
Para isso, contratou a agência de publicidade Peper, que trabalhou na campanha de Dilma em 2010, reforçada pelo jornalista Leandro Fortes que, segundo o vice-presidente petista, será responsável pela elaboração de textos.
Equipe de inteligência nas campanhas – Para o consultor e especialista em visualização de dados na internet Fábio Malini, a diferença da próxima eleição em relação à passada é que as ferramentas de análise de dados estarão mais aprimoradas, o que possibilita que as equipes usem de forma mais inteligente e “menos violenta” as informações coletadas nas redes sociais. “Todos os partidos políticos precisam ter clareza que a atuação online é estratégica para construção de um diálogo com os eleitores indecisos”, diz. “É importante estar atento à carga emocional viral que circula na rede em função de notícias e posts produzidos na internet. Toda campanha política requer uma equipe de inteligência para analisar esses conteúdos.”
O especialista alerta para o fato de que as campanhas “apócrifas” que repercutem e ficam na memória dos internautas são, em geral, as que difundem informações verdadeiras, mas inconvenientes, que dão dor de cabeça aos candidatos. “Com a transparência dos dados hoje, os candidatos são submetidos a campanhas que revelam inúmeras situações ou processos que eles querem esconder. Será sempre natural que isso corra e se distribua na rede”, afirma.
Malini diz que não faz mais sentido combater campanhas negativas nas redes sociais buscando “os líderes do compartilhamento”. “(É preciso) perceber que a força da opinião reside na capacidade que os perfis de redes sociais possuem de produzir comunidades virtuais de modo coletivo e produzir assim grandes memes”, afirma. E para combater difamação, um bom site esclarecendo os internautas, que possa ser achado em uma simples busca, é o suficiente para desfazer qualquer mal entendido. “A experiência de análise de grandes volumes de dados interativos (big data das eleições) é o principal desafio da equipe das campanhas, não apenas para formar melhor a imagem do político, mas, sobretudo, para incorporar as demandas políticas que nascem da força da viralização de opiniões e memes nas redes.”