O artista plástico, Pedro Bezerra, o Pepê, trabalha com arte há 35 anos, mas sempre sob encomenda ou expondo com outros profissionais; jamais em um espaço próprio. Neste sábado, 21, e domingo, 22, ele apresentou o seu trabalho na Feira de Integração e Arte, em Ilhéus. Morador a 100 metros da Praça São João Batista, no bairro do Pontal, onde aconteceu o evento, ele revelou que muitos de seus vizinhos ficaram surpresos ao vê-lo ocupando um dos 40 estandes montados no local. “Muitos sequer sabiam que eu era artista”, disse. Para Pepê, a feira serviu para abrir novas portas na própria comunidade onde vive e o principal ganho foi “finalmente poder criar uma identidade artística”, garantiu.
O evento, organizado pela Associação Pontalense de Cidadania, em parceria com o Sebrae, Prefeitura Municipal e Instituto Nossa Ilhéus, é um projeto-piloto da Feira Criativa do Pontal, que busca transformar o local em um “Bairro Criativo”. Segundo Pepê, o destaque do seu trabalho ficou por conta das saídas de praia, com texturas, feitas com uma técnica que utiliza o bagaço de sisal como pincel. “Fui visitado por mais de 1 mil pessoas em apenas dois dias de feira. Vendi bem”, contabilizou.
A mesma impressão de Pepê teve Alessandro Almeida, com sua produção de velas artesanais. “Tinha gente que perguntava se o trabalho era feito por alguém de Ilhéus”, disse Alessandro, morador da Sapetinga, bairro próximo ao Pontal. Nem ele próprio acreditava que poderia voltar a produzir uma arte que deixou de lado há nove anos para tentar a sorte em outra atividade. Formado em Administração de Empresas, Alessandro foi estimulado pela cunhada e resolveu apostar no evento. “Esta iniciativa nasce diante de uma demanda existente no setor de entretenimento da cidade. Tem tudo para dar certo, por isto estou aqui de volta”, disse.
A mineira Marilza Oliveira, de Governador Valadares, vai passar o Natal em Ilhéus. No domingo, visitou a feira e elogiou a iniciativa. “É uma boa oportunidade de conhecer o artesanato local feito por pessoas que vivem em uma mesma comunidade e que se encontram na praça para valorizar sua identidade cultural”.
Criatividade – “A ideia utilizar insumos para transformar lugares e pessoas”, assegurou a coordenadora da Unidade Regional do Sebrae Ilhéus, Claudiana Figueiredo. De acordo com Claudiana, a proposta da feira é possibilitar a geração de trabalho e renda aos artistas da locais do bairro, com acesso a espaços públicos para troca de experiências e conexões.
Uma das expositoras, a artista popular Janete Lainha, resolveu estimular a leitura infantil com suas publicações de cordel. “Pensei: como chamar a atenção da criançada para a leitura? Inclui no ‘kit cultural’, um ingrediente bem convidativo: um chocolate”, contou. A proposta funcionou e as vendas aumentaram no estande de Cultura Popular montado na praça.
Na avaliação dos organizadores da feira, o resultado foi positivo. “Esse primeiro evento foi para termos a noção da nossa capacidade de organizar e de realizar algo deste porte”, explicou Henrique Abobreira, representante da Associação Pontalense de Cidadania. O projeto vai investir na concepção de “Bairro Criativo” para o Pontal, uma das comunidades mais dinâmicas de Ilhéus. O bairro, além de servir como referência para as paradisíacas praias do litoral sul e abrigar o Aeroporto Jorge Amado, concentra uma quantidade significativa de bares, restaurantes e hotéis.
“A proposta é reunir o talento da comunidade e disponibilizar essa economia produtiva e criativa para atender ao público local e aos visitantes”, explicou Abobreira. A ideia partiu de um movimento construído pela própria comunidade, que pretende resgatar as tradições do Pontal, reunindo em um só ambiente arte, literatura, lazer e gastronomia, e ganhou força a partir da consolidação de uma parceria público-privada entre o governo municipal e uma construtora para a recuperação total e modernização da Praça São João Batista, local proposto para o encontro dos talentos do bairro.