A contraofensiva do deputado permite dizer que o enquadramento político da direita vive ainda sob o signo do coronelismo, onde não há argumentação, manda quem pode e obedece quem tem juízo, como sempre foi. Vivem ainda sob a égide de uma sociedade autoritária que se redemocratizou, mas é prejudicada todos os dias pela perpetuação de práticas coronelistas, clientelistas e fisiologistas que abastecem dia após dia um eleitorado conservador (mesmo entre os vulneráveis sociais).
Não é difícil arrancar um gesto de ódio de classe, xenofobia, racismo e homofobia de um membro da direita brasileira. Basta pressionar, bater na tecla e encurralar. Nenhum deles consegue aguentar o debate público e, na falta de uma argumentação sólida, o jeito é partir para a agressão. Foi assim com o senador Álvaro Dias que chamou o Bolsa família de “Bolsa esmola”, foi assim com Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e muitos outros.
A agressão da vez foi a do deputado estadual Bruno Reis (PRP), fiel escudeiro da família ACM e assessor direto do deputado federal ACM Neto (DEM-BA). Questionado por mim em uma rede social sobre envolvimento em esquema flagrado pela operação Octopus da Polícia Federal, o nobre deputado não pensou duas vezes: desfilou o veneno homofóbico de quem representa interesses conservadores que há muito deviam deixar de existir em qualquer civilização com princípios de defesa aos direitos humanos.
A provocação: “Tá nervosinha, Gabriela?” já foi utilizada pelo mesmo deputado para outros usuários da rede social, permitindo algumas interpretações: a) para “diminuir um homem” é preciso associá-lo ao morfema feminino, como em “nervosinha”; b) “nervosinha” adquire valor de “inferior” pela enunciação, ou seja, o ato de dizer e o ato ao dizer, porque, como o discurso situa os sujeitos e vivemos em uma sociedade polarizada por luta de classes e intensa desigualdade ao tratamento das questões de gênero pelo senso comum, o uso do morfema feminino foi usado para prejudicar moralmente o interlocutor do deputado. A primeira assertiva, de que, “para diminuir um homem” é preciso associá-lo a um morfema feminino só pode adquirir valor em uma sociedade patriarcalista e de valores fundamentalmente homofóbicos. Em primeiro lugar, não se “diminui” ninguém, embora tenha sido essa a intenção do nosso querido parlamentar, e, em segundo lugar, o morfema feminino não pode ser usado para tal. Nesse caso, presenciamos duas atitudes: uma de homofobia, pela caracterização feita a um homem que o deputado busca associar ao morfema feminino para ridicularizá-lo, como se ser gay fosse algo ridículo e machismo, permitindo o estabelecimento de sentido acerca da ideia de que o feminino é “inferior”.
A contraofensiva do deputado permite dizer que o enquadramento político da direita vive ainda sob o signo do coronelismo, onde não há argumentação, manda quem pode e obedece quem tem juízo, como sempre foi. Vivem ainda sob a égide de uma sociedade autoritária que se redemocratizou, mas é prejudicada todos os dias pela perpetuação de práticas coronelistas, clientelistas e fisiologistas que abastecem dia após dia um eleitorado conservador (mesmo entre os vulneráveis sociais). Por isso, o deputado estadual Bruno Reis não soube e não sabe argumentar. Ele é a espécie mais divinizada de lambe-botas do carlismo que utiliza as redes sociais contra toda e qualquer política pública que afete as relações do status quo. É contra o bolsa família, contra as cotas, contra o “Mais médicos”, porque seu comportamento é, por excelência, quatrocentão, provinciano, atrasado. O que ele gostaria é de viver abanado pelos negros com aquelas perucas cafonas da aristocracia europeia que veio para o Brasil dormir na rede e nos causar péssimas visões de nós mesmos. Bruno Reis não é um exemplo de herdeiro das capitanias hereditárias, mas age como fiel defensor dos herdeiros, como é o caso do seu assessorado ACM Neto, herdeiro do império ilegalmente constituído do avô ACM em sua saga tirânica de Toninho Malvadeza.
A direita brasileira não consegue esconder seu atraso quando não consegue demonstrar um projeto genuinamente brasileiro, com moldes de geração de uma burguesia brasileira fortalecida, ainda que sob os desmandos de políticas mais conservadoras. Em termos político-econômicos, fica difícil chamar a ainda elite escravocrata brasileira de burguesia, pois a mesma nunca se configurou nos moldes em que a modernidade inaugura o conceito de burguesia. A elite brasileira é provinciana e coronelista e luta para se perpetuar dessa forma. É a mesma que mandava os filhos estudar na Europa e voltar “doutores” e a mesma que prefere ir fazer compras na sétima avenida de Nova Iorque. É uma direita que não tem projeto de Brasil porque se julga “pura”, “branca”, de “sangue azul”, “descendente de europeus” etc.
É nessa configuração que Bruno se coloca, ao ser homofóbico e machista em uma mesma colocação. O parlamentar demonstra um atraso ideológico de quem ainda não percebeu que vivemos em um Estado democrático de direito, em que se pode argumentar sem ser atacado, execrado e ofendido moralmente. Ele demonstra ainda que não tem postura de parlamentar, pois não cumpre o requisito mínimo para quem é postulante a representar o povo brasileiro, pois não sabe argumentar. É a prova mais completa de que espécie de direita atrasada, machista, provinciana, autoritária e homofóbica nós temos no Brasil, que não compreende que perdeu o fio da meada e não tem lugar na história recente, em que gays, transgêneros, transexuais, travestis, mulheres, negros, índios, favelados, jovens e trabalhadores buscam consolidar direitos historicamente negados pela atitude de gente como o deputado estadual Bruno Reis.