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REVELAÇÃO NO PRÊMIO BRASKEN, ATOR ILHEENSE ESTÁ EM GRANDES PRODUÇÕES DO CINEMA NACIONAL

BAHIA NOTÍCIAS
Amaurhy Oliveira.
Amaurhy Oliveira.
Natural de Ilhéus e ex-integrante do Bando de Teatro Olodum, Amaurih Oliveira foi um dos vencedores de umas das mais importantes premiação da dramaturgia baiana, o Prêmio Braskem de Teatro, na categoria revelação da edição 2013
Indicado pelo seu desempenho no musical “Éramos Gays”, escrito por Aninha Franco, o ilheense recebeu o prêmio das mãos de Antônio Carlos, o Vovô do Ilê.
Amaurih iniciou sua carreira em sua cidade natal, integrando o Teatro Popular de Ilhéus. Em Salvador, formou-se em Artes Cênicas na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e fez parte do Bando de Teatro Olodum, além de ser convidado para fazer participações em duas minisséries da Globo. Ainda participou dos longas “A Última Estação” e “A Coleção Invisível”, estrelado por Vladimir Brichta, antes de integrar o elenco do espetáculo que lhe rendeu o prêmio.
Neste mês de maio, o ator participa das gravações de dois filmes nacionais que devem ganhar destaque nos próximos meses nas telas de cinema: a cinebiografia sobre a vida de Irmã Dulce, dirigida por Vicente Amorim (“O Caminho das Nuvens”, “Corações Sujos”), e o longa “Travessia”, estrelado pelo galã global Caio Castro e com direção do baiano João Gabriel.
Clique no “Leia Mais” e confira a entrevista que o ator concedeu à coluna de Cultura do site Bahia Notícias.
Como foi receber o Prêmio Braskem? Você já esperava?
Amaurih Oliveira – É sempre uma surpresa receber um prêmio. Passamos três meses em cartaz com “Éramos Gays”, então houve um tempo para o personagem se desenvolver e amadurecer. A gente sempre tem uma expectativa, quer saber se a comissão que avalia os espetáculos assistiu naquele dia, mas acho que fazer o trabalho com base no prêmio não é bom. Querer ganhar é normal, acho que todo mundo tem o desejo de ganhar. Não vou mentir, eu sempre quis ganhar, sempre esperei ser indicado. Que bom que foi nesse espetáculo, em que eu estava me sentindo muito à vontade, porque os diretores e a autora davam liberdade de criação. Claro que uma liberdade com limite. Fiquei muito feliz de receber o prêmio, até porque sou um ator jovem, tenho apenas 10 anos de carreira, estou apenas começando nessa estrada. Esse prêmio serve como estímulo e indício de que estou no caminho certo e sendo reconhecido pelo meu trabalho. Torço para que outros atores tão jovens quanto eu possam também ser agraciados por esse prêmio e ter o seu devido valor.
 Você chegou a conhecer o trabalho dos seus concorrentes?
AO – Eu me arrependo um pouco de não ter sido essa a primeira coisa que falei no meu discurso no Braskem. Falei um pouco da minha história e me esqueci de falar desses meus colegas, que são Fausto Soares, Denise Correia, João Victor Sobral e LP Nolasco. Já conheço o trabalho de Denise Correia há algum tempo, já vi outros de seus espetáculos. É um pouco difícil estar concorrendo com profissionais que eu admiro e gosto. Denise é uma grande atriz e também cantora. Já trabalhamos juntos no “Cabaré da Raça”, do Bando de Teatro Olodum, e ela é uma atriz muito delicada, vigorosa, então eu fiquei devendo dizer isso e que ela devia se sentir premiada também. Fausto Soares é um diretor que está chegando, assim como eu. Nós já trabalhamos juntos na Escola de Teatro, pegamos matérias juntos. Ele é muito esforçado, veio do interior da Bahia, está chegando com um novo espetáculo, que o público deve assistir, assim como “Sou Um Dom Quixote”, que retornará e teve três indicados [na categoria Revelação do Prêmio Braskem]. Eu vi as duas crianças [João Victor Sobral e LP Nolasco] no espetáculo, eles são maravilhosos! Fiquei muito feliz quando vi que foram indicados, porque são meninos bons, que têm talento. É uma pena não poder dar o prêmio a todo mundo. 
Como foi sua experiência com “Éramos Gays”?
AO – Era um espetáculo que discutia sexualidade, orientação sexual, religiosidade, a relação de respeito entre os seres humanos… Uma montagem que tinha as ideias propostas pela autora Aninha Franco. O público tinha aquela quantidade enorme de informações e discussões. Mostrava um grupo de amigos que se reunia para tirar Alice Kate do armário. Era muito gostoso fazer, porque a gente se divertia muito nas cenas, então o público comprava essa diversão. Como era um musical, a gente cantava, dançava. Era tudo muito envolvente. Tinha um conjunto de elementos que fazia com que o público se envolvesse. Até hoje, as pessoas perguntam se vai voltar, mas ainda não sabemos ao certo.
O que você acha que muda daqui para frente, depois de receber um dos mais importantes prêmios do teatro baiano?
AO – Eu torço que meu cachê aumente [risos]. Acho que é uma mudança profissional, porque eu tenho minha essência, caráter, respeito. A minha ética tem que se manter, independente de prêmio, mas isso me dá uma segurança maior. As pessoas começam a me ver como quem venceu o maior prêmio da Bahia de teatro, então isso me deixa naquele lugar de quem está sendo valorizado. Em consequência, vão acabar cobrando mais também ao ver meu trabalho, vai haver uma maior exigência. É necessário ter muito pé no chão para administrar minhas atitudes como pessoa e como artista. 
Você sempre teve incentivo para seguir a carreira de ator?
AO – Acho que o incentivo sempre foi muito meu, porque sempre quis. Desde criança, via minha mãe assistir às novelas e dizia que queria ser ator. A primeira porta que me abriu foi o teatro. O teatro é minha casa, eu amo. Meus pais sempre me respeitaram e diziam: “Amaurih, corra atrás dos seus sonhos, se esforce, se dedique”. Meu pai puxava um pouco minha orelha dizendo que essa profissão é muito difícil e que é complicado vencer. Ele queria que eu aprendesse a consertar carro, porque ele era mecânico, mas eu não queria nada disso. Sempre foquei e me dediquei à carreira de ator.
Como foi início da sua carreira em Ilhéus?
AO – Comecei a fazer teatro em Ilhéus, com o dramaturgo Gildon Oliveira. Uma professora da escola estadual em que eu estudava sugeriu que fizesse um teste para participar do teatro. Minha primeira peça foi “Amigas de Breves e Longas Datas”, com direção de Gildon. Logo depois, fiz “Sonhos de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare, e outros espetáculos. Trabalhei com o Teatro Popular de Ilhéus por três anos. Com esse grupo que eu pude desenvolver mais o meu trabalho como ator. Devo muito do meu início ao Teatro Popular de Ilhéus, porque foi um grupo que me acolheu e que vem desenvolvendo um trabalho incrível na Tenda, um circo que eles administram. Todo começo é sempre muito difícil, mas com o tempo você vai se esforçando e surgem pessoas que dão oportunidades, a exemplo de Márcio Meirelles, que me deu a oportunidade de trabalhar no Bando de Teatro Olodum, no “Cabaré da Raça”.
Por que você veio para Salvador?
AO – Não é necessário fazer escola de teatro para ser ator, há grandes atores que nunca passaram por uma faculdade de teatro, mas eu vi a possibilidade de viver novas experiências e crescer profissionalmente. Vir para Salvador foi bom para conhecer novos profissionais. Sempre tive vontade de trabalhar com diversos diretores, fazer cinema, TV, e Ilhéus é um pouco limitado, fica mais complicado. Estar aqui me acrescenta muito em experiência profissional. Tive boas oportunidades em cinema, fui daqui para o Rio fazer participações na Globo, então posso dizer que Salvador me dá régua e compasso.
Você falou que não é necessário ter um diploma, então qual foi seu objetivo ao fazer faculdade?
AO – A universidade dá uma vivência com profissionais do mercado de Salvador que são professores da UFBA e produzem muito. A necessidade de fazer universidade foi para amadurecer minha experiência como ator, a minha forma de atuar. Acho que foi principalmente uma vontade de amadurecer, que me veio quando eu pude estudar Stanislávski, Grotowski e outros estudiosos do teatro. A universidade te apresenta estes pesquisadores, dando a liberdade de seguir algum deles ou encontrar nosso próprio caminho. Esse lado teórico é importantíssimo, até para dar uma base para falar sobre alguns assuntos. Teoria e prática andam juntas.
 Você entrou no Bando de Teatro Olodum assim que chegou a Salvador?
AO – Seis meses depois que cheguei a Salvador, uma colega minha da universidade, que também estava indicada para o Braskem, Luíza Prosérpio, disse que teria um curso com Márcio Meirelles sobre teatro e novas tecnologias. Fiz o curso e, depois de dois ou três meses, Márcio me chamou para substituir um ator no “Cabaré da Raça”, espetáculo de maior público do Bando de Teatro Olodum. Fiz duas ou três temporadas do “Cabaré”.
Qual a importância do Bando de Teatro Olodum na sua formação como ator?
AO – Teve uma grande importância. Eu respeito e admiro muito esse grupo. Fui muito bem recebido e o espaço deles está guardado no meu coração. Depois que eu fiz o “Cabaré da Raça”, um pesquisador de elenco da Rede Globo, Lauro Macedo, me chamou para fazer um cadastro. No período, eles estavam produzindo “Gabriela” aqui. Não passei no teste, mas fui chamado logo depois para fazer uma participação na série “Como Aproveitar o Fim do Mundo”, da Globo, em que trabalhei com Alinne Moraes e Danton Mello. O Bando também foi muito importante para que se abrissem outras portas, porque é um grupo muito respeitado.
“Como Aproveitar o Fim do Mundo” não foi sua única participação na Globo. Como foi a repercussão da série “Amores Roubados”?
AO – Em “Amores Roubados”, fiz uma cena com a Patrícia Pillar que repercutiu muito. Muitos blogs comentaram, porque a cena foi bem picante. Tive a oportunidade de encontrar Patrícia Pillar depois que a cena foi ao ar e ela estava muito feliz e empolgada com a repercussão da cena, porque não foi uma cena fácil para nenhum dos dois. Modéstia à parte, ficou bem feita.
 Como foi contracenar com atores nacionalmente conhecidos? O que você tirou disso?
 AO – É importante que a gente entenda que é trabalho. Todo esse deslumbre, esse lado glamuroso da profissão deve ser equilibrado, se não, a gente se perde muito. Eu trabalhei com esses profissionais conhecidos e famosos. Foi novo para mim, mas sempre busquei tratá-los como qualquer pessoa, porque são pessoas normais. Tem toda essa questão da mídia, mas quando se coloca no mesmo nível, tratando naturalmente, as coisas fluem. Agora mesmo, estou fazendo um filme com Caio Castro e outro com Regina Braga.
 Quais trabalhos você está realizando atualmente?
AO – No filme Irmã Dulce, contraceno com Regina Braga e faço um dos protagonistas. João é uma criança que Irmã Dulce pega para cuidar com 10 anos de idade e cuida dele como se fosse um filho. Ele é deixado na porta dela, que diz para ele voltar para casa. João volta com 30 anos de idade, e eu faço esse personagem. Tem uma dramatização dessa história, porque João é como se fosse um filho de Irmã Dulce. Com Caio Castro, estou fazendo o filme “Travessia”, que começa a ser filmado essa semana. No momento, estou bem focado no vídeo, mas voltarei para o teatro em breve.
Qual a sua opinião sobre o incentivo que é dado ao teatro baiano?
AO – O teatro baiano sempre teve dificuldades, mas acho que esse é um momento difícil. Com todo o respeito aos editais, eu acho que o artista não pode viver só de edital pra sobreviver. Não acredito que os editais sejam a última chance para que dê certo. Têm que existir, até para democratizar as coisas, mas é necessário que os artistas não se prendam a eles. Eu não quero ser um artista que, se não tiver edital, não vou produzir uma peça, um filme ou qualquer trabalho artístico. O artista tem que dar ao povo a sua arte e o governo, de modo geral, deve valorizar essa arte. Quando o governo não valoriza seus artistas e a arte criada na nossa cidade, fica difícil produzir. O artista é um bicho muito insatisfeito, então acha que falta investimento. Acho que o governo tem que valorizar o que é nosso e o que tá aqui.