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CINEMA EM ILHÉUS: TRAGICOMÉDIA

QILA NOBRE
Qila, segundo ele mesmo, é a junção de três partes. 50% preguiças variadas; 40% mentiras lavadas e 10% bondade e amor.
Qila, segundo ele mesmo, é a junção de três partes: 50% preguiças variadas, 40% mentiras lavadas e 10% bondade e amor.
Vi voluntariamente sozinho filme “O Espetacular Homem-Aranha 2”, esse sábado, no Cine Santa Clara.
Furei uma fila que esperei calmamente ficar gigante, como sempre. Então, de praxe, ouvi frases civilizadíssimas: “Só porque é aleijado acha que é melhor que os outros”; “Respeita a fila mocinho, essa bengala não me engana” e outras menos gentis.
Passei reto. Acostumado com as falhas desse cinema, fiquei pasmo: imagem focadinha, legendas e na tela nenhum risco, nenhuma mancha preta. Para eu não me animar demais, o ar condicionado continua morto e o áudio continua soando como aquelas caixas de som de porta de loja. Entretanto, os atendentes continuam legais. Até aquele baixinho invocado que fica organizando a fila estava tranquilão.
Porque ainda colocam anúncios toscos antes do filme? Putz grila, o bebê deformado guinchando num trilho de trem é assustador.
O filme se baseia na fase do Homem-Aranha quando ele perdeu a primeira namoradinha, perfeitamente linda, inteligente e divertida. Aliás, ele perde de várias formas as mulheres da vida dele. Um lascado amoroso. Esse reinicio “parte 2” do Aranha no cinema é chato, muito chato. Longo, 02:40h de duração, e cheio de partes desconectadas. O filme tenta resumir zilhões de anos de tramas, fica muito emocional e isso o deixa ainda mais chato.
Do pessoal que estava assistindo, nem aquelas palminhas cafonas, nem aqueles gritos em cenas incríveis, nem aquele barulho irritante e mal educado de embalagem de guloseima. Por falar em guloseimas, tenho uma dúvida: Alguém me explica o motivo que faz com que essas maravilhosas porcarias comestíveis nesse cinema custem um bilhão de reais?
Ninguém tava falando alto ou fingindo susto. Poxa, é um filme “roliudiano”, é pra divertir e deixar o público pensando de leve um pouquinho. Não teve nada disso. Tem um vilão elétrico que pouco aparece, um resto de Duende Verde com cara de Power Ranger Zumbi, e um ricaço psicopata que poderia aparecer mais. A namorada do Aranha é uma atriz sem sal e o ator que o interpreta é tão ruim que dá tristeza. O cara é muito feio, inexpressivo, se acha, mau piadista e quando sofre, ele mistura sofrência e sarcasmo raso o tempo inteiro, e com cara de dor de barriga.
O que salva são partes aleatórias onde ele se diverte loucamente pululando pelos prédios em cenas de dar vertigem. Fizeram um Homem-Aranha bostinha. O herói da série anterior era mais legal e divertido, pelo menos na parte um.  Sam Raimi, o diretor dessa primeira fase, especialista em filmes de horror e leitor de quadrinhos, fez bonito.
De repente a caixa de som perto de minha cadeira, no extremo oposto da entrada, funciona do nada e assusta todo mundo. Foi o segundo momento mais divertido da noite.
O primeiro foi quando geral olhou para trás para saber que barulho de pancada estava vindo por detrás de mim. E, véi, quando vimos, era um elemento com cara de jovem aprendiz, com um pé do próprio sapato na mão matando uma barata gigantesca e repetindo num tom de voz normal: “Já matei três”. O povo se acabou de rir e logo depois disso o filme durou mais uns 10 minutos com cenas mirabolantes em close e câmera lenta no herói aracnídeo acrobaticamente lutando contra os vilões e ganhando.
Entre baratas mutantes, ares condicionados estragados, caixas de som sem som, chão emporcalhado e sem limpeza entre uma seção e outra, mulheres bonitas com roupinha de liquidação e conhecidos que insistiam em conversar comigo, ir a esse cinema é sempre engraçado.