ILHÉUS 24H :: Porque a notícia não para. Porque a notícia não para

SACRIFÍCIOS À DIVINDADE

JULIO GOMES
Julio Cezar de Oliveira Gomes é professor e advogado.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é professor e advogado.
Sempre houve, e em alguns casos ainda existe, a prática religiosa de oferecer sacrifício de animais em favor dos espíritos ou da Divindade.
Não se trata de criticar esta ou aquela religião, mas de estabelecer, isto sim, um olhar crítico sobre nós mesmos. Vejamos:
O Cristianismo, religião hoje professada pela maioria das pessoas do mundo ocidental, seja como católicos, seja como protestantes, seja como membros da Igreja Ortodoxa Grega ou de outras variações do Cristianismo, tem como raiz fundamental a Religião Judaica pois, como sabemos, foram os Judeus que introduziram a concepção de Deus único e, por meio de seus profetas, anunciaram a vinda do Messias, o Enviado de Deus, que para nós é Jesus.
Entretanto, na época mesma em que Jesus viveu, era prática quase obrigatória o sacrifícios de animais – cordeiros, cabras, bois (para os mais ricos), pombos (para os mais pobres) e outros. Decerto que o Cristo deve ter reprovado tal prática, porém, talvez para não entrar em choque direto com o Judaísmo e com as demais religiões dominantes à época, tal admoestação não constou dos evangelhos que chegaram até nós.
Não obstante, sempre sangramos aos animais para que eles pagassem por nossos pecados, na tentativa de aplacar, com seu sangue, a propalada ira das divindades.
Em tempos ainda mais remotos – é necessário fazer esta autocrítica – sacrificava-se no altar não só aos animais, mais aos próprios seres humanos. Tal prática encontra-se expressa no Antigo Testamento (Gênesis, 22 1-13), quando o patriarca Abraão levou seu filho Isaac para que este fosse morto em honra ao seu Deus, o que só não se concretizou, segundo a Bíblia, porque o próprio Deus recusou a realização deste ato, enviando um anjo que determinou a substituição de Isaac por um carneiro e, desta forma, banindo expressamente o sacrifício humano das práticas da religião Judaica.
Não se trata aqui de demonizar o Judaísmo. Infelizmente, a prática de sacrifícios humanos não se restringia aos Hebreus, mas se encontrava bastante difundida entre inúmeras outras civilizações da Antiguidade, sendo posteriormente encontrada até mesmo aqui no continente americano, entre indígenas pré-colombianos.
O que importa dizer é que o banimento dos sacrifícios humanos no Judaísmo representou, à época, um tremendo avanço humano, que só se mostrou possível mediante a substituição destes por animais.
Já no Cristianismo não se tem notícia, nem mesmo em seus primórdios, da prática do sacrifício de animais, o que sem dúvida assinala a ascensão de mais um importantíssimo degrau evolutivo.
Quanto às religiões que ainda hoje se utilizam do sacrifício de animais, penso que não seria o caso de pressioná-las a rever tais práticas, mas de elas mesmas, espontaneamente, fazerem tal revisão, compatibilizando seus ritos e liturgias com os novos paradigmas da espiritualidade.
Afinal, quem precisa de sangue, carne e brasas somos nós, pobres pessoas humanas, espíritos encarnados que ainda não nos acostumamos a viver sem o consumo de proteínas de origem animal.
Quanto aos espíritos e a Deus, decerto o que há de contentá-los são nossas orações e, sobretudo, nossos atos na convivência com os demais seres humanos.