Nesses quase 12 anos de “lulopetismo”, vários críticos e apoiadores surgiram na esfera sociopolítica. Entre os críticos estão aqueles que, embasados pelo que há de mais reacionário na história, enxergam no PT um programa disfarçado que nos levará ao socialismo, ao comunismo, ou, como adoram profanar nas redes sociais, à ditadura gayzista, feminista e classista. Há ainda os que também não votam no PT por conta do outro extremo argumentativo. Não votam porque o PT se perdeu dos seus ideais, dizem eles. Esses chegam a se dizer, diversas vezes, ex-petistas, ainda que não tenham sido filiados ao partido ou sequer participado de alguma campanha petista.
Um outro grupo, marcadamente influenciado pelo grande oligopólio que domina a imprensa brasileira, é contra o PT porque dizem que este é corrupto. O mesmo PT que promoveu, como nunca, os sistemas de investigação através da autonomia das instituições, como polícia federal e Ministério Público, tem sido acusado por esse grupo de ser o partido mais corrupto da história brasileira.
Essa opinião cai forçadamente por terra com os dados de corrupção divulgados por mecanismos como polícia federal e TSE. E, por último, há quem vote no PT por acreditar que em volta dele se concentra a única alternativa de inserção da esquerda na história política brasileira contemporânea. Nesse grupo há críticas contundentes ao PT, em que pontos positivos e negativos são destacados. Entre os negativos, a atenção exagerada ao Superávit Primário e amortização dos juros da dívida pública, o endeusamento do agronegócio, a lentidão na demarcação de terras indígenas, a tentativa de aproximação a uma burguesia colonial que já tinha vendido sua alma, desde antes, à receita neoliberal e agora vestiu a roupa de desenvolvimentista.
Os acertos desses quase doze anos superam os erros. É o caso do Bolsa Família, Luz para Todos, ProUni, Cotas, Reuni, Minha Casa Minha Vida, Ciência sem Fronteiras etc. Todos esses acertos superam, claramente, os erros e as incongruências com as pautas históricas da esquerda. É certo, porém, que o petismo tem limitações impostas pela conciliação à direita. E a clareza de pauta confundiu, por vezes, o eleitorado histórico da esquerda, que não foi formado programaticamente nos quadros da esquerda. No entanto, uma última carta na manga de Dilma Rousseff pôde colocar na mesa lados distintos da arena política.
É o caso do decreto 8.243/2014 que institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS. Resultante das manifestações de junho de 2013, o decreto visa fortalecer as instâncias democráticas de diálogo com a sociedade civil, através de conselhos, conferências e comissões. Algo similar às diversas conferências feitas pelo ex-presidente Lula, sendo agora tratado como política pública de Estado. Mas isso assustou sistematicamente a direita. No congresso nacional somente o PT, PCdoB e PSOL defenderam a política pública, demonstrando o medo que alguns setores da sociedade e da velha política têm do povo. Há quem esteja associando a palavra conselho a “sovietes”, assim como há quem esteja gritando que essa política é a adesão definitiva do Brasil ao chavismo. E se for? Num mundo mediado por transições tão autoritárias, verticais e conservadoras, o chavismo conseguiu, democraticamente, se tornar uma alternativa à falta de equilíbrio político global.
O que dirão os críticos que afirmam um PT que perdeu seus ideais? O que dirão aqueles que reverberam as acusações midiáticas de corrupção feitas ao PT? A única certeza é de que aqueles que acusam o PT de ser uma tentativa disfarçada de socialismo estão bem assustados. O fato é que o PNPS e o SNPS representam o que há de mais legítimo numa democracia que se propõe participativa. Nessas duas políticas estão a saída para um aprisionamento moral em que se encontra o cidadão brasileiro pós-democratização, acostumado com o autoritarismo e falta de participação popular de 21 anos de ditadura militar. A direita, capitaneada pelas velhas figuras do PMDB, PP, PSDB, DEM, está amedrontada. Está claro o seu medo do novo porque o novo representa o povo. É a marcha irrequieta da história buscando espaço no que há de mais reacionário no congresso nacional. E, em nosso modelo, o povo só pode triunfar através das urnas e da mobilização social. Se o lulopetismo está sendo acusado de chavismo por democratizar o acesso à participação da sociedade civil, então está no caminho certo, ainda que com problemas e limitações em seu próprio programa. Se Dilma apostou em ganhar adesão do congresso nacional não sabemos ao certo, mas essa atitude permite ao eleitor saber quem tem e quem não tem medo do povo. Se há partidos que têm medo de conselhos e conferências é porque tais partidos querem governar para si, para o próprio bolso, para a velha estrutura elitista que perdura em nosso país. O PT e PCdoB demonstraram não ter medo do povo, da voz das ruas, da participação popular. Uma única certeza: o povo aos poucos está perdendo medo que sempre teve das elites. É bom mesmo que esses papagaios da grande mídia e dos partidos de direita se preocupem.