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A VOLTA DOS MILITARES AO PODER: VOCÊ TEM SEDE DE QUÊ?

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

Chama a atenção, neste momento pós eleitoral, o número considerável de pessoas que tem se manifestado, nas ruas, pelo retorno dos militares ao Poder, sinalizando explicitamente para uma volta ao regime que o Brasil já experimentou entre 1964 e 1995, conhecido como Ditadura Militar.

Tenho escutado com atenção o que dizem estas pessoas, que elencam uma série de motivos para justificar suas proposições e, ao analisar o que dizem, a primeira coisa que salta aos olhos é que suas queixas começam com questões políticas, mas se estendem muito além, abarcando inúmeros outros aspectos da vida dos brasileiros. A impressão que tenho é de que talvez a insatisfação seja menos com o rumo da política, e mais com o que acontece em relação a estes últimos assuntos. Vejamos:

Após as tradicionais – e mais do que justas – críticas à roubalheira que sempre existiu no Brasil e que durante governos recentes se tornou mais visível, os defensores daquilo que denominam como “intervenção militar” se perdem em argumentos pueris do tipo “estamos virando uma república bolivariana” ou “é preciso tirar o PT para acabar com a roubalheira”, sem nem mesmo saber quem foi Simon Bolívar; e promovendo, infantilmente, a ideia de que toda a corrupção teve seu início e fim no PT, e que os demais partidos e políticos nunca participaram disso.

Depois das queixas políticas o que ouvimos são afirmações do tipo: “Hoje em dia não existe mais respeito”, “a criminalidade está tomando conta do país”, “é preciso dar valor a quem trabalha, e não a quem nada produz” ou “ninguém respeita mais às famílias” e outras do mesmo gênero. E quanto a estas últimas afirmações, receio que estas pessoas estejam certíssimas!

Vivemos uma crise de respeito sem precedentes, onde todos querem ter direitos, mas ninguém quer respeitar os direitos dos outros. Ninguém respeita mais a inocência das crianças. Casais se agarram em público como se estivessem dentro do motel, e isto vale tanto para casais homo quanto heterossexuais. A criminalidade avança como nunca e o criminoso, sempre impune, além de ser tratado como um eterno coitadinho, ainda se torna, muitas vezes, um líder comunitário e um modelo a ser seguido pelos jovens.

Há uma tremenda falta de respeito na forma como muitos jovens se dirigem a seus pais e avós, que os alimentaram e limparam suas bundas antes de que eles pudessem formular o primeiro pensamento. E se você é patrão, chefe ou autoridade pública, é olhado com desconfiança e com hostilidade, como se todas as culpas do mundo estivessem em suas costas.

O Governo diz que não tem dinheiro para aumentar o valor pago aos trabalhadores aposentados, mas insiste em manter um absurdo auxílio-reclusão em favor de condenados por cometer crimes graves. E os benefícios sociais destinados aos carentes se aproximam, afrontosamente, do valor pago a título de salário para quem trabalha duro um mês inteiro!

A TV coloca diante de nossos filhos crianças e adolescentes tudo aquilo que teríamos o maior pudor em mostrar, e se dissermos algo contra isso seremos, sem dúvida, taxados como monstros do atraso e da discriminação. E nas escolas, refletindo o que acontece na sociedade, o professor é desmoralizado quando tenta manter a ordem.

A conclusão a que chego é que talvez as pessoas não queiram os militares no poder tanto por questões políticas, mas para manter o mínimo de ordem, decência, limites e respeito que a convivência social exige.

E, embora sendo totalmente contra a presença dos militares no Poder, no que toca à necessidade de voltarmos a ter este mínimo de respeito talvez estas pessoas estejam absolutamente corretas.