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AUTO DE RESISTÊNCIA: UM GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA

Eduardo Régis (Morcegão), é professor de História e militante do Movimento Negro.
Eduardo Régis (Morcegão), é professor de História e militante do Movimento Negro.

EDUARDO RÉGIS  

Nos EUA, muitos latinos e negros são mortos violentamente, principalmente pelas mãos da polícia. Podemos ver isso nos últimos casos noticiados na mídia, onde, policiais que por sinal eram brancos, mataram dois negros de forma absurda e preconceituosa. São acontecimentos recentes e que revoltou parte da população americana, que saiu às ruas para protestar contra essas ações.  

Todavia, aqui no Brasil, segundo o mapa da violência, 30 mil jovens são assassinados por ano no país. Dentre eles, 77 % são pobres, sobretudo, negros. Entretanto, no conjunto da população brasileira, entre 2002 e 2010, as taxas de homicídios a brancos caíram de 20,6% para 15,% – queda de 24,8% – enquanto a de negros cresceu de 34,1 para 36,0 – aumento de 5,6%. Em compensação, nossa sociedade, com algumas exceções, não se manifesta contra isso.

 Sabemos que muitos jovens morrem por causas diversas, até por serem negros “elementos suspeitos por natureza”. Pois, tudo isso reflete a estrutura racista e institucionalizada, ao qual o país foi formado, porém, naturalizada, negada, e com tal geram práticas racistas inclusive de policiais que muitas vezes matam indiscriminadamente esses jovens de forma duvidosa, suspeita, e alegam logo auto de resistência. 

Para quem não a conhece, vale esclarecer que é uma ferramenta jurídica, criada na ditadura militar, e que servia para legitimar a repressão policial da época, e que segue sendo usada até hoje para encobrir crimes, livrar policiais de acusações de ato criminoso. 

Tal fato nos faz lembrar o caso Amarildo, Rio Janeiro (2014), Davi Fiúza, Salvador (2014), ambos sumidos misteriosamente por policias, fora outros milhares de casos parecidos que ocorrem corriqueiramente. 

Contudo, nossa ideia aqui não é a do “bem contra mal”, mas de suscitar uma reflexão para buscarmos acabar com esses tipos de ações preconceituosas e racistas contra a nossa juventude pobre e negra. Com isso, quando um policial é assassinado, tem que se investigar, julgar e prender quem o fez, quando eles assassinam também o mesmo deve ocorrer. Então digamos “Não” aos autos de resistência, que acabam sendo passaportes para o genocídio da juventude negra.