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SOBRE O CLAMOR CONTRA A CORRUPÇÃO NO BRASIL  

JULIO GOMES

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

As manifestações públicas que ocorreram no Brasil nos últimos dias, tanto as de sexta-feira, dia 13, realizadas pelos apoiadores de Dilma; quanto as do domingo, dia 15, promovidas pelos que lhe são contrários, tiveram um ponto em comum: o clamor generalizado contra a corrupção reinante há séculos em nosso país, mas só agora elevada ao patamar de inimigo público número 1.

Desejo acreditar que seja este o principal propósito tanto de um grupo como doutro, pois por vezes sou tentado a entender que, na verdade, o grupo do dia 13 quer manter Dilma no poder ao tempo em que se agarra à bandeira do combate à corrupção; enquanto aqueloutro do dia 15 quer tirá-la a qualquer custo da Presidência, usando como pretexto exatamente a mesma bandeira.

Mas vamos à convergência: o combate à corrupção, incentivado pelos principais meios de comunicação, está na ordem do dia!

Oportuno lembrar que quando Dilma se candidatou trouxe como um de seus principais compromissos de campanha o combate à corrupção, a traduzir-se em um pacote de medidas legais que endureceriam as penas para quem viesse a incorrer neste tipo de crime.

É bom colocar as coisas nestes termos porque é assim que agem os governos nas democracias, nos países civilizados, onde o Estado se encontra consolidado e avança em direção às garantias civis: Quando se quer instituir algo, vota-se uma lei e, sobretudo, faz-se com que a mesma tenha eficácia, sendo respeitada por todos os membros daquela sociedade, dos mais humildes aos poderosos. Assim deve ser a lei em um Estado de Direito.

Voltemos ao Brasil: Nossa Presidente prometeu um pacote de leis anticorrupção durante sua campanha eleitoral, que evidentemente tem de ser aprovado em votação junto ao Congresso Nacional, ou seja, aos Deputados e Senadores. E desde a eleição quase ninguém mais tocou no assunto – e isto vale tanto para os políticos da situação, que apoiam o governo; quanto para os de oposição, que se lhe opõem.

Este silêncio de nossos políticos sobre o pacote anticorrupção talvez incomode mais do que as manifestações que ocorrem nas ruas. Explico o porquê: É que temos a impressão de que tudo não passa de uma grande jogada para apoiar ou para tirar Dilma do poder, sem que, na verdade, ninguém queira mudar absolutamente nada em relação à corrupção.

Espero sinceramente que quando o Governo enviar ao Congresso Nacional o pacote anticorrupção, contendo leis mais duras contra a corrupção, nossos deputados e senadores – tanto da oposição quanto do governo – simplesmente o aprovem na forma mais dura possível, demonstrando que querem de fato cortar na própria carne para extirpar este mal que consome o país há séculos.

Por fim, como não consigo compreender que as mudanças do Brasil passem só por “eles”, os governantes, os políticos, quero propor desde já uma coisa a nós outros, brasileiros comuns, cidadãos do dia-a-dia: Que façamos o exercício, também nós, de extirpar as pequenas corrupções e ilegalidades que praticamos cotidianamente, como furar filas, estacionar em vaga destinada a idoso ou deficiente, desrespeitar sistematicamente a legislação de trânsito e tantas outras. Afinal, a eficácia de uma lei anticorrupção deve vir acompanhada de uma cultura anti corrupção, que só pode subsistir se enraizada no povo.

Então, mudemos, desde já, também a nós mesmos. Talvez este seja o melhor caminho para termos e legarmos um Brasil melhor para nossos filhos.