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A COROA DE JESUS

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

Sempre fui tomado de um sentimento estranho ao ver as imagens de Jesus, e de sua mãe, Maria, mostrando-os coroados, com este adereço as vezes mal colocado sobre a cabeça, denunciando que foi posto ali depois da imagem pronta, pouco se integrando à roupagem original de ambos.

Teriam sido rei e rainha? Não, positivamente não! Mas quando criança, diziam-me que Jesus era rei e que Maria era a rainha das mulheres. Esta explicação era mais do que suficiente para uma cabecinha infantil.

Cresci e após muitos anos passei a reparar, nas representações das Igrejas Cristãs mais diversas, como se apresentavam as roupas de Jesus: Este quase sempre com um manto púrpura, de um vermelho fidalgo, imponente, de ostentação; e com relação a Maria, observa-se a aplicação desta mesma concepção de luxo, com manto de grosso veludo e suntuosa cor. Em ambos, muitas vezes, há nas barras das roupas uma franja bordada a fios de ouro, da mesma forma que se usava nos trajes de reis, imperatrizes e príncipes do mundo, até bem pouco tempo atrás.

A representação que vemos é tão historicamente falsa quanto, sobretudo, enganosa do ponto de vista da imagem de riqueza e poder mundanos que induz aos observadores.

Jesus foi um homem extremamente simples e sem posses materiais. Vivia entre pescadores e pessoas do povo, conversava com pobres, crianças e idosos. Viajava a pé. Não tinha casa, hospedando-se onde podia, muitas vezes de favor. Só uma única vez a Bíblia registra que tenha se utilizado de montaria, quando da entrada em Jerusalém, uma semana antes da crucificação. Teria sido a primeira e última vez.

Se Jesus, o Mestre, o Rabi, seguido por doze apóstolos e uma multidão, nada tinha para si, muito menos haveria de ter sua pobre e idosa mãe.

É necessário lembrar que os pobres da época de Jesus vestiam uma túnica de linho cru. E quase sempre era uma só, tanto pela pobreza extrema do povo quanto pelo fato de que alguém quase nômade, tal como Jesus, não carregaria armário nem mala, nem há registro de que alguém lhe carregasse a bagagem.

Da mesma forma, os pobres, em geral, não usavam roupas de tecidos tingidos, uma técnica que encarecia as roupas. Pessoas do povo usavam vestes de linho cru, variando apenas um pouco o tom conforme a matiz do fio de linho.

Pobre na acepção mais ampla do termo, não há na Bíblia sinal algum de riqueza em Jesus, exceto aquela contida em seu olhar e nas mensagens plenas de infinito amor.

Jesus e Maria, durante séculos, foram intencionalmente representados com as roupas e adereços da nobreza das épocas passadas, em uma tentativa de retirá-los do seio do povo, como a dizer aos pobres que ambos eram ricos, e que estariam sempre ao lado dos ricos e contra os pobres caso estes reivindicassem quaisquer direitos junto àqueles, constituindo-se tal imagem em sutil e eficaz instrumento de dominação ideológica, política e social, cruelmente exercida durante séculos sobre a plebe embrutecida pela ignorância e pela miséria.

Libertemo-nos das visões suntuosas e equivocadas de Jesus e Maria cobertos de ouro e púrpura. Não precisamos disso. Que nos baste a riqueza infinita do Seu olhar, da Sua mensagem, e da Sua Paz.