Cena nada surpreendente no cotidiano de Ilhéus, cidade de vasto e incalculável potencial turístico:
Numa cabana de praia, um jovem casal de turistas. Tira gosto de isca de peixe, acompanhado de molho rosé e molho de pimenta. A moça – educadamente – não reclama, apenas comenta com o garçom: “- Moço, sou alérgica a pimenta e acabei comendo pimenta pensando ser vinagrete”.
Eu estava numa mesa próxima e – não sei por que cargas d´água – o garçom me escolheu pra desabafar: “- É mole? A mulé ali meteu pimenta na boca pensando que era vinagrete…”.
Perguntei: Você avisou que era pimenta quando serviu? Resposta do garçom: “- E precisa???”.
Algo inadmissível numa cidade que se diz ou pensa ser turística. No imaginário daquele garçom, todo mundo é obrigado a identificar um molho de pimenta caseiro, até os visitantes oriundos de localidades sem hábito no consumo desse tipo de condimento!
A alternativa econômica prioritária para Ilhéus após a quebradeira do cacau – nenhuma dúvida – seria o turismo. Décadas se passaram e a Princesinha ainda se mantém inerte, parada no tempo e sem se especializar no filão (falo do turismo de verdade), cuja vocação não é privilégio de qualquer município.
Noventa quilômetros de litoral, a exuberância do que ainda resta da Mata Atlântica, riqueza histórica e gastronomia fascinante. Faca e queijo na mão, mas falta competência.
Inacreditável que Ilhéus ainda não tenha uma escola de garçons, não ministre com frequência palestras sobre bom atendimento e relações com o consumidor, nem sedie um curso de graduação técnica ou superior voltado a turismo e hotelaria. Desconheço, também, qualquer iniciativa pública de busca por aprendizado ou experiência, através de intercâmbio com outras praças bem sucedidas na importante atividade econômica do turismo. Cito, como alguns exemplos, Porto Seguro (aqui pertinho), Gramado, Natal, Campos do Jordão, etc.
A continuar assim, posso crer que estaremos cada vez mais nos especializando, tão somente, na inútil ciência da perda de oportunidades.