“Nesta segunda-feira (27/11) o professor Marcos Bandeira, que ministra a disciplina Estatuto da Criança e do Adolescente ofertada pelo Departamento de Ciências Jurídicas da UESC aos/às estudantes do 10º semestre do curso de Direito no turno matutino, coagiu uma estudante a sair da sala de aula por estar acompanhada de seu filho de apenas 1 e 8 meses.
Não é segredo para ninguém que a Universidade Estadual de Santa Cruz, assim como a maioria das universidades baianas e brasileiras não oferece o mínimo suporte de acolhimento necessário às estudantes e as trabalhadoras mães, reivindicações sempre revividas pelo movimento estudantil.
O que é inadmissível é que um professor universitário que trabalhe com direito da criança e do adolescente, já vindo ser Juíz da Vara da Criança e do Adolescente, seja tão insensível e apresente um posicionamento político tão conservador, individualista e machista, expresso nessa atitude.
O que atrapalha o bom desenvolvimento da aula não é a presença de uma criança, mas a desigualdade estrutural que existe entre ricos e pobres, homens e mulheres e brancos e negros/as, que fez com que durante séculos às mulheres, sobretudo as mulheres negras trabalhadoras fosse negado o direito à educação formal.
Nesse momento de ofensiva do conversadorismo alinhado a uma política cada vez mais neoliberal, que avança sobre os corpos e as vidas das mulheres explorando e precarizando cada vez mais o trabalho e restringindo cada vez mais o seu direito reprodutivo, onde o acesso e permanência das mulheres nas Universidades e demais espaços escolares está cada vez mais comprometida não podemos permitir nenhum tipo de ataque direito ou indireto aos nossos direitos e um deles é frequentar a Universidade.
Depois de muita luta foi possível conquistar em 2014 66% das vagas para estudantes pobres e 47,57% para estudantes negros/as nas universidades federais (sendo esses últimos apenas 4% em 1997), e não vamos aceitar retroceder!
Ao invés de o professor ficar preocupado com a tranquilidade da sua aula ser garantida por um padrão de alunado que ele não encontrará mais, deveria se preocupar com a aliança entre as/os estudantes na luta por um projeto verdadeiramente popular de universidade, onde caibam as mulheres, mães ou não, negras, indígenas, lésbicas, trans e todas as demais e onde seja garantida as condições para isso, também através de creches, restaurantes e transportes públicos universitários, compreendo assim a necessidade da sua estudante e respeitando a sua presença nas próximas aulas, concedendo à ela suas devidas desculpas.
Porque se é verdade que frequentar a universidade foi conquista de um histórico de lutas, também é verdade que essas não cessam até a garantia de um acesso e permanência universais. Não permitiremos nenhuma discriminação no acesso aos nossos direitos!”
Ilhéus, 28 de novembro de 2017
Diretório Central das e dos Estudantes Livres Carlos Marighella
Direito de resposta
O direito de resposta foi oferecido ao professor Marcos Bandeira e pode ser lido clicando AQUI.
Sobre o caso