De forma lamentável, novamente, os olhares de nossa nação se afetam a uma tragédia resultante de um crime ambiental. A atividade mineradora mais uma vez surge fazendo vítimas humanas e ambientais, desta vez em Brumadinho, com perspectivas de atingir centenas de mortos e desabrigados. Miraí em 2007, Mariana em 2015 e agora Brumadinho no início de 2019 são manchas da atividade mineradora do Estado de Minas Gerais (e no Brasil). Agora, se tornam também manchas da nossa multinacional Vale. Afinal, o que está ocorrendo no Brasil nessa área? Falta fiscalização e monitoramento? Ou estamos na verdade assistindo de camarote a ausência de uma governança de riscos iminentes da atividade mineradora? Estamos certos de que, a forma de construção dessas estruturas, a manutenção e a criação de estratégias para redução de perdas (humanas e materiais) até agora se mostram inexistentes ou no mínimo negligentes/criminosas.
Partindo para nosso Estado da Bahia, infelizmente há dados que demonstram riscos altíssimos de rompimentos de barragens de rejeito de minério em nosso Estado. Segundo informações da Agência Nacional de Mineração na Bahia (ANM), são pelos menos 14 barragens de rejeitos que podem representar algum risco, ainda que não tenhamos registro de acidentes. O destaque são as três barragens com alto potencial de dano localizadas em Jacobina, Santa Luz e Itagibá. Dentre essas com alto risco, destacamos que a barragem de Itagibá (próximo a Ipiaú), está localizada a aproximadamente 600 metros do rio de Contas.
Itagibá, município de nosso Sul da Bahia, está inserido nesse contexto pela presença de um minério de níquel operado pela Mirabela Mineração. Atualmente, o reservatório possui uma lâmina d’água de aproximadamente 10 km². A grande implicação dessa estrutura para o meio ambiente regional é que a mesma está praticamente ribeirinha ao Rio de Contas. Ou seja, em um eventual rompimento da barragem, localidades do baixo curso do rio de Contas como Ubatã, Ubaitaba, Taboquinhas e Itacaré seriam totalmente prejudicadas pelo de desastre e posterior diminuição da potabilidade da água. Atividades de pesca estariam comprometidas. Todo o estuário na altura de Itacaré seria palco natural da morte de inúmeras espécies devido a contaminação da água. E o turismo litorâneo de Itacaré? Seria totalmente atingindo pela poluição do litoral, onde teríamos literalmente um “mar de lama”. Dessa forma, esse desastre seria um crime contra a população, o meio ambiente e a economia dessa microrregião do Sul da Bahia.
Toda essa contextualização é para formatar mais preocupações com nossos recursos humanos e naturais, sobretudo porque já nos assustamos com tanta negligência dos desastres ocorridos em Minas Gerais. Não queremos que o Sul da Bahia seja cenário de mais um evento desse tipo, resultado de uma governança criminosa realizada pela mineração brasileira (com participação e anuência de políticos inescrupulosos, que infelizmente é a regra no Brasil).
Por Roberto José, Caio Maciel e Jonatas Mattos. Os autores tem suas respectivas formações em Geografia e Engenharia de produção.