Nas últimas semanas, a Prefeitura Municipal de Ilhéus realizou modificações no trânsito das avenidas Litorânea Norte e Antônio Carlos Magalhães, no bairro do Malhado, transformando as vias em um binário de tráfego e criando faixas exclusivas de ônibus e ciclofaixas. As mudanças causaram estranhamento e dividiram opiniões. Se por um lado, comerciantes da Avenida ACM fizeram uma manifestação contrária às alterações, alegando que haverá impacto negativo para o comércio da região, ciclistas comemoraram a implantação das ciclofaixas.
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Para tentar resolver o impasse, o prefeito Mário Alexandre recebeu na terça-feira (05/02) em seu gabinete moradores e comerciários para ouvir as demandas dos mesmos em relação às alterações de tráfego nas avenidas. Já na quarta-feira (06/02), o Instituto Nossa Ilhéus (INI) participou de uma reunião com o chefe do Executivo, ciclistas e apoiadores das mudanças realizadas nas vias do Malhado. Os presentes parabenizaram a iniciativa inovadora da prefeitura de criar vias cicláveis e de ônibus e ressaltaram que as modificações darão mais segurança para os ciclistas. O grupo ainda se colocou à disposição para colaborar no processo de adaptação da população à nova organização das vias.
Tendo em vista que a Política Nacional de Mobilidade Urbana coloca em regime de prioridade o pedestre, o ciclista e o transporte público, o Instituto Nossa Ilhéus enxerga como positivas as readequações realizadas nas avenidas Litorânea Norte e ACM. Se por um lado, as alterações no tráfego e na ocupação das vias podem causar ainda confusão e transtornos, no longo prazo, essas modificações apontam para uma melhor organização do espaço público, melhoria do trânsito e priorização do transporte ativo e do transporte coletivo.
Cabe ressaltar que a adaptação ao novo nunca é fácil, e quando essa mudança atinge o seu modo de ir e vir o desafio é ainda maior. No entanto, a cidade precisa estar atenta e aberta aos novos paradigmas mundiais da mobilidade urbana. Espaços ocupados, ao longo das últimas décadas, inteiramente por veículos automotores particulares, necessitam agora compartilhar esses locais com modalidades de transporte mais democráticas e sustentáveis.
Vale destacar também que o INI sempre colaborou na construção de projetos para a melhoria da mobilidade urbana no município. Em 2015, o Instituto Nossa Ilhéus foi um dos parceiros do Instituto de Urbanismo Colaborativo (COURB) na elaboração do projeto Ativa Ilhéus, que previa a criação de 35.07 km de ciclovias e ciclofaixas na cidade, dentre as quais o trecho realizado agora na Avenida ACM pela prefeitura. O projeto foi elaborado com a contribuição da população por meio de um questionário virtual. Hoje, a atuação do Instituto com relação ao tema é feita por meio do Projeto MobCidades: Mobilidade, Orçamento e Direitos.
A seguir as razões pelas quais defendemos a implantação das ciclofaixas e das faixas exclusivas de ônibus:
Incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte e lazer – A implantação dos primeiros quilômetros de ciclofaixas da cidade permitiu aos ciclistas espaço dedicado para trafegar com segurança. A ação também faz com que outras pessoas se sintam encorajadas a utilizar a bicicleta como meio de transporte e lazer.
Os benefícios do incentivo ao uso do transporte cicloviário são muitos. Além de ser um veículo não-poluente e ter baixo custo, a bicicleta também ocupa menos espaço, favorece a saúde e melhora a qualidade de vida da população. Quanto aos impactos sobre a economia da cidade, uma pesquisa realizada pela Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo) em 2015, com o tema “Perfil de quem usa a bicicleta na cidade de São Paulo”, mostrou que cerca de um terço (29%) dos ciclistas entrevistados usa a bicicleta para ir ao comércio, com proporção maior entre ciclistas mulheres (42%). Em relação à frequência, 70% acessam o comércio uma ou duas vezes por semana e 30% acima de três vezes por semana.
“Cabe destacar, nesse sentido, que os consumidores são pessoas e não carros. Quanto mais você favorece a rotatividade de uso dos espaços próximos aos locais de comércio e serviços, mais pessoas tem acesso e se sentem incentivadas a visitá-los”, ressalta o consultor do Projeto MobCidades no Instituto Nossa Ilhéus, Jonathan Souza.
Colocando o transporte coletivo como prioridade
Outro ponto que vale destacar nas modificações empreendidas no bairro do Malhado é a criação de faixas exclusivas para ônibus, possibilitando a priorização do transporte coletivo, que possui maior capacidade de pessoas e ocupa menor espaço nas vias.
Os impactos positivos dessa ação é a redução do tempo de deslocamento dos passageiros, diminuição dos custos das viagens e o incentivo do transporte público como alternativa mais rápida nos trajetos para o trabalho, para as instituições de ensino e para os espaços de serviços e lazer.
“Não é compreensível que um ônibus levando 60 pessoas tenha que disputar o mesmo espaço com um veículo com um ou dois passageiros. Precisamos incentivar o uso do transporte coletivo como uma forma de tornar a mobilidade mais sustentável em nossa cidade. Claro que isso, não se faz só com faixas exclusivas, mas também com a melhoria do conforto, da acessibilidade, da segurança e da confiabilidade do transporte público”, enfatiza o consultor do MobCidades.
Planejamento urbano – Por fim, vale ressaltar que o planejamento urbano é contínuo e deve ter como base o bem da coletividade. A presidente do Instituto Nossa Ilhéus (INI), Maria do Socorro Mendonça entende que é necessário que o poder público esteja atento aos questionamentos em relação às alterações do tráfego no bairro do Malhado, mas advoga que, antes de realizar quaisquer alterações, a prefeitura deve investir em campanhas de orientação dos motoristas, pedestres e ciclistas, além de acompanhar por um período de 90 dias a adaptação da população às mudanças.
MobCidades – Projeto de fortalecimento de organizações da sociedade civil para monitoramento e incidência em políticas públicas de mobilidade urbana. Envolve a atuação de 10 movimentos de cidades brasileiras, entre eles, o Instituto Nossa Ilhéus, o único da Bahia. É financiado pela União Europeia e coordenado pelo Instituto e Estudos Socioeconômicos (INESC).
Por Instituto Nossa Ilhéus (INI) – Fundado em 09 de março de 2012, o Instituto é uma iniciativa da sociedade civil organizada, apartidária com o título de OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Busca a aproximação da sociedade civil e do poder público em suas ações, com o objetivo maior de melhorar a cidade, por meio dos eixos de atuação ‘Educação para Cidadania’, ‘Monitoramento Social’ e ‘Impacto em Políticas Públicas’. O INI está aberto a todos que desejam engajar-se em suas atividades. Acompanhe o site www.nossailheus.org.br, o Facebook.com/InstitutoNossaIlheus e o Instagram @nossailheus.