Antes de ser socorrido para o Hospital Base de Itabuna, o delegado José Carlos Mastique agonizou durante vinte minutos no chão. Essa é a versão contada em depoimento pelo investigador da Polícia Civil José Jorge Figueiredo dos Santos, que estava com o delegado quando ele foi morto por policiais militares no último domingo (28) em Itabuna, no Sul da Bahia.
Os PMs foram identificados como soldado Sérgio Rocha Moreira e cabo Cleomario de Jesus Figueiredo, ambos lotados no 15º Batalhão de Polícia Militar (15º BPM/Itabuna), e foram presos nessa terça-feira (30).
José Jorge, que é lotado na 13ª Delegacia (Cajazeiras), foi convocado para ir a Itabuna pelo delegado Mastique, também de Cajazeiras, porque ele estava operado e não poderia dirigir até a cidade.
O CORREIO teve acesso a informações do Termo de Depoimento de Testemunha de José Jorge, registrado na 6ª Coordenadoria de Polícia do Interior (6ª Coorpin/Itabuna), que investiga o caso. No documento, o policial conta que ele e o delegado morto foram a um posto de gasolina para comprar cigarros.
José Jorge deu a mesma versão do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipoc) de que uma mulher estava sendo agredida por um homem que, depois, eles descobriram ser policial militar.
O investigador afirmou que ele e Mastique tentaram intervir na briga e chamaram uma viatura da PM que, ao chegar no local, apoiou os policiais militares. “Chegou uma viatura com dois policiais e doutor Mastique, ao perceber a chegada da viatura, se identificou como delegado, mostrando a carteira funcional em uma das mãos. Eu acredito que, ao identificar que a outra parte se tratava de um policial militar, os policiais que ali chegaram passaram a ter uma postura diferente, mandando que tanto eu quanto o doutor Mastique deitássemos ao chão, mas nós recusamos”, contou José Jorge durante o depoimento.
Ainda segundo o policial civil de Cajazeiras, Mastique dizia diversas vezes que era delegado e, mesmo assim, um dos policiais militares retirou da cintura uma das armas e disparou contra ele, que foi atingido do lado esquerdo do peito.
“Fui até onde ele estava e vi que ele estava ferido. Olhei a pulsação e solicitei que dessem socorro a ele e lhes disse: ‘Olha a merda que vocês fizeram, atiraram em um delegado’ e eles mandaram que eu me deitasse ao chão. Eu, sem alternativa, me deitei”, afirmou o investigador.
Após o tiro, ainda segundo o depoimento, o delegado ficou no chão, sem socorro. Durante esse tempo, os policiais mandaram José Carlos entregar a arma. “Eu não entreguei a arma para eles porque tive medo que eles atirassem em mim também. Eu solicitava que eles dessem socorro ao delegado e eles me deram voz de prisão. Eles não trouxeram para a delegacia nenhuma pessoa que estava no local e que presenciaram tudo”, relatou.
O socorro só foi prestado quando um tenente da PM chegou ao local do crime. Ele colocou o corpo do delegado na parte de trás da viatura e levou ao hospital, onde foi constatada a morte.
Versão da PM – Já a versão do 15º BPM diz que, antes do crime, o delegado estava com o carro estacionado no Posto Jequitibá. Um morador que passou pelo local, por volta das 4h, estranhou o carro parado e viu que havia um homem armado no veículo.
A testemunha teria entrado em contato com a PM informando que suspeitava de que ocorreria um assalto no posto. A PM informou que esteve no local, notou que o suspeito estava “alterado” e que sacou a arma, sem se identificar como delegado. Foi quando ele teria levado o tiro no peito.
O caso é investigado pela 6ª Coorpin, com apoio da Corregedoria-geral da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).
O corpo de José Carlos foi enterrado nesta segunda-feira (29). O enterro ocorreu no Cemitério do Campo Santo, no bairro do Pontalzinho, na própria cidade itabunense. O delegado, que estava há 15 anos na Polícia Civil, era casado e deixa um filho.