Por ser um país formado por diferentes vertentes culturais e ter tido influência de diversos lugares do mundo em seu processo formativo e histórico, o Brasil configura um rico cenário em termos de diversidade cultural e racial. Tal pluralidade há muito funciona como uma espécie de caldo cultural que inspira artistas de diferentes linhas, sejam elas literárias, fotográficas ou relacionadas à pintura.
A singularidade do país em termos culturais fez com que muitos artistas locais retratassem em suas obras a realidade brasileira, registrando costumes, paisagens e a forma de vida em geral. No âmbito da pintura, por exemplo, Candido Portinari estampou desde aspectos da cafeicultura no Brasil a temas sociais, como as festas populares e a vida e as condições dos trabalhadores rurais. Em termos de fotografia, o foco varia bastante, indo de tipos humanos a belezas naturais. Na literatura, por sua vez, temos nomes como Graciliano Ramos, que retratou a vida do homem nordestino no sertão, atingindo seu ápice com Vidas secas, romance lançado há mais de 80 anos, e Jorge Amado, que se dedicou, entre outros, tanto às temáticas sociais quanto ao ciclo do cacau, tendo constantemente a Bahia como pano de fundo. Ilhéus é uma das localidades que mais inspiraram o escritor baiano, e é sobre essa inspiração que iremos falar.
Jorge Amado e Ilhéus: uma forte ligação
Jorge Amado nasceu em 1912 em Itabuna, mas Ilhéus acabou sendo adotada como sua cidade, visto que naquela época a fazenda em que nasceu estava localizada em uma região que pertencia a este município. Além disso, grande parte da vida do escritor foi passada em Ilhéus, já que um surto de varíola na região em que estava a fazenda fez com que ele se mudasse para a cidade. Ilhéus, portanto, exerceu grande influência na formação pessoal do autor, que se inspirou em diversos aspectos locais para escrever alguns de seus romances, como Gabriela, cravo e canela e São Jorge dos Ilhéus.
A cidade celebra o fato de ter servido tantas vezes de inspiração para as obras de Jorge Amado e retorna sua gratidão de diferentes formas, que vão desde dar o nome do autor ao aeroporto local até criar eventos como a Semana Jorge Amado, cuja programação inclui diferentes formas de manifestações culturais – como poesia, artesanato, teatro e música – em celebração à vida e à obra do escritor. Em um ciclo de gratidão mútua, iniciado pelo carinho que o escritor dedicou à Ilhéus, a Semana Jorge Amado colabora com outros artistas e escritores, que têm a chance de lançar seus trabalhos durante o evento, mantendo assim a literatura e a arte em geral em movimento, algo que o autor certamente apreciaria. Outro evento clebrado na cidade, em 2012, foi o centenário do escritor com o projeto “Amar Amado”, como lembra matéria publicada no portal G1.
Gabriela e os pontos icônicos de Ilhéus
Na cidade de Ilhéus, pontos como o Bataclan e o Vesúvio são tão estrelas de Gabriela, cravo e canela quanto as próprias personagens. O Bataclan da época de Jorge Amado era uma mescla de casa noturna e cassino frequentada por artistas, intelectuais e poderosos da região, como os coronéis do cacau. Comandado por Maria Machadão, que inspirou a criação da personagem homônima em Gabriela e que já foi interpretada por Ivete Sangalo em uma das produções televisivas baseadas no livro, o lugar era um dos mais conhecidos da região. Atualmente, o Bataclan funciona como restaurante e espaço cultural e continua atraindo muita gente, incluindo fãs de Jorge Amado, que querem provar um pouquinho daquilo que é contado em suas obras.
Outro espaço em Ilhéus que também serviu de inspiração para Gabriela foi o bar Vesúvio, um dos estabelecimentos mais tradicionais da cidade, aberto há mais de cem anos. Na década de 1940, o bar, aberto por italianos em 1915, foi comprado por um libanês, que posteriormente se casou com uma baiana. Dizem que foi dessa história que Jorge Amado tirou inspiração para criar os personagens Gabriela, protagonista da trama que trabalhava no local, e Nacib, o dono do bar. O lugar ficou famoso graças ao livro e, assim como o Bataclan, é bastante visitado pelos apreciadores do escritor.
Além desses dois locais relacionados à obra de Jorge Amado, Ilhéus também guarda uma outra pérola conectada à vida pessoal do autor e, consequentemente, à sua obra. A Casa de Cultura Jorge Amado, que abriga um acervo permanente de pertences do escritor, como roupas e fotografias, foi onde ele passou parte de sua vida. O local já recebeu prêmio do portal TripAdvisor devido às boas avaliações que obteve no aplicativo do site.
Outros locais que serviram de inspiração
Apesar de o “berço” do escritor ser Ilhéus, outras cidades também entram no mapa de inspiração do autor. A Bahia como um todo serviu como pano de fundo para os enredos sobre ciclo do cacau, costumes e vida da população menos favorecida.
Capitães da areia, por exemplo, tem como cenário a capital do estado, Salvador. As ruas da cidade – dividida entre Cidade Baixa, onde fica a zona portuária, e Cidade Alta, área residencial e mais abastada – é onde se passa grande parte da trama que tem Pedro Bala e seu grupo como personagens centrais. Salvador foi citada diversas vezes nas obras de Jorge Amado, como lembra artigo do portal Correio, servindo também de cenário para Dona Flor e seus dois maridos, livro que mistura a vida noturna da cidade – com seus cassinos e casas de diversão – com a culinária baiana e o candomblé. A obra ganhou duas adaptações para o cinema, uma em 1976, quando a protagonista foi interpretada por Sonia Braga, e outra em 2017, quando o papel foi dado a Juliana Paes, conforme comentou à época o portal Omelete. Além de Dona Flor, a história tem como personagens principais Teodoro, o equilibrado farmacêutico, e Vadinho, que passa boa parte da trama jogando bacará e roleta, modalidade cujo objetivo é apostar onde a bola cairá com maior frequência e que tem diversas variantes, como a americana e a francesa, que, conforme explicado na plataforma Betway roleta online, é a variação mais pura do jogo, fornecendo mais chances de vencer o crupiê em apostas externas, já que tem apenas uma casa 0.
Teodoro representa o comprometimento e a fidelidade enquanto Vadinho personifica o prazer e a excentricidade, o que faz dos dois maridos uma espécie de metáfora para o paradoxo humano.
Já Tieta do Agreste se passa na cidade fictícia de Santana do Agreste, localizada no interior da Bahia de acordo com a obra. Apesar de a cidade ser fruto da imaginação de Jorge Amado, é possível que tenha sido inspirada no povoado de Mangue Seco, onde o autor passou férias durante vários anos de sua vida. Inclusive, quando a obra virou novela e foi transmitida na televisão, o cenário escolhido para rodar as gravações foi esse vilarejo localizado no litoral baiano, que também é parada obrigatória para os fãs do escritor.
São muitas as localidades baianas que colaboraram com a criação das obras de Jorge Amado. Por ora, tanto os lugares quanto os romances do escritor continuam mantendo a imaginação em alta, seja por meio de uma viagem literária ou física, até as paragens mencionadas em seus livros