“Uma vacina é capaz de prevenir que a pessoa tenha a doença, por outro lado, se o indivíduo for diagnosticado com a covid-19, ele precisa de um tratamento que geralmente é feito através de drogas que muitas vezes não são o medicamento ideal”. É desta forma que o cientista baiano Bruno Andrade defende a importância da ciência em meio à realidade pandêmica do planeta.
O pesquisador desenvolve, junto ao seu grupo de pesquisa, no Laboratório de Bioinformática e Química Computacional da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), em Jequié, um estudo para propor novas soluções de drogas a serem testadas contra o coronavírus (SARS-CoV-2). Entre os diferenciais, há uma base de dados com cerca de 50 mil moléculas, na qual foi pesquisada, de forma mais abrangente, candidatos a se tornarem medicamentos que possam ser efetivos contra a doença.
Bruno explica que utilizou um banco de dados computacional e realizou uma comparação com drogas antivirais já conhecidas como o remdesivir e hidroxicloroquina, selecionando, posteriormente, 40 compostos químicos que podem ser testados contra o coronavírus. Outro diferencial do estudo é que as 50 mil moléculas eram todas naturais e não sintéticas, o que contribui para a precisão dos resultados. “Além disso, não fizemos reproposição de drogas como muitos estudos fazem, pegando alguns medicamentos conhecidos por tratar outras doenças e tentar adequá-lo no combate ao coronavírus. Fomos em busca das drogas que estão presentes em estudos mais avançados como da Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, que já testam essas substâncias como possíveis medicamentos contra a doença”, disse.
A inspiração para criar este projeto veio da experiência do grupo no laboratório onde atua. “Já trabalhamos na luta contra outras doenças como leishmaniose, esquistossomose, dengue, entre outras. A busca por um tratamento exige um trabalho semelhante ao que estamos fazendo agora em relação ao coronavírus. Com o surgimento desta pandemia, que já matou mais de 65 mil pessoas, nos sentimos no dever de contribuir através da ciência. Já que trabalhamos com o desenvolvimento de medicamento para outras doenças, por que não utilizar este conhecimento para combater esta nova ameaça? Então o que a gente fez foi utilizar os dados disponíveis para aplicar nesta realidade que estamos vivendo”, destacou.
O pesquisador pondera o desejo de contribuir na luta contra um inimigo invisível que causa tanto sofrimento. “A gente espera que este estudo retorne para a sociedade em forma de tratamento imediato e possa diminuir o número de mortes que estamos acompanhando nas estatísticas divulgadas diariamente. A ideia de utilizar a ferramenta que estamos trabalhando é ampliar o universo de moléculas e assim, consequentemente, a chance de ter o melhor composto químico para o tratamento”, ressaltou.
O grupo de pesquisa contou com o apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), da Virginia Commonwealth University (EUA), do Institute of Integrative Omics and Applied Biotechnology (India) e da Fiocruz (RJ). “Esse trabalho foi totalmente desenvolvido na UESB, com o apoio de parceiros essenciais para sugestões, orientações e correções. Podemos dizer que é ciência nascida na Bahia, mas que busca melhorar o bem-estar do mundo inteiro”, concluiu.
Bahia Faz Ciência
A Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e a Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb) estrearam, no dia 8 de julho, o Bahia Faz Ciência, uma série de reportagens sobre como pesquisadores e cientistas baianos desenvolvem trabalhos em ciência, tecnologia e inovação de forma a contribuir com a melhoria de vida da população em temas importantes como saúde, educação, segurança, dentre outros. As matérias serão divulgadas semanalmente, sempre às segundas-feiras, para a mídia baiana, e estarão disponíveis no site e redes sociais da Secretaria. Se você conhece algum assunto que poderia virar pauta deste projeto, as recomendações podem ser feitas através do e-mail [email protected]