Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro equiparou o PT ao presidente Jair Bolsonaro. Ele também disse estar “aberto” a possibilidade de aderir aos movimentos em defesa da democracia e contra o governo. Para ele, o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não reconhece erros cometidos durante seu período no governo federal em relação aos desvios na Petrobras. Para ele, isso pode ser comparado ao discurso negacionista de Bolsonaro sobre a pandemia do coronavírus.
Na entrevista à Folha de São Paulo, Moro disse ainda não ver constrangimento em integrar manifestos que possam ter membros críticos a seu trabalho como juiz da Lava Jato. “Vejo esses manifestos com naturalidade, como reação às declarações que não têm sido felizes por parte do presidente, esses arroubos autoritários. Estamos discutindo temas da Guerra Fria, não deveríamos”, justificou ele.
Moro apontou ainda o que chamou de “arroubos autoritários” de Bolsonaro e citou exemplos. “Quando o presidente invoca as Forças Armadas, a minha percepção é que não existe nenhum espaço nelas para um movimento de exceção, um golpe, algo dessa espécie. Quando o presidente fica invocando, de maneira imprópria para defender posições políticas, isso gera nas pessoas receio, temor. Isso é um blefe? Ou é alguma coisa real? Deveria ser evitado”, ponderou ele.
Ao responder sobre a resistência que muitos integrantes têm em relação a Lava Jato, Moro argumentou que existe uma incompreensão em relação a operação. “Há uma incompreensão do que foi a Operação Lava Jato, um caso judicial de investigação de corrupção. Há pessoas que ficam ressentidas porque alguns de seus ídolos políticos foram atingidos”, afirmou ele. “Assim como atingiu o ex-presidente Lula, atingiu o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. As pessoas foram processadas pelo crime de corrupção, que não tem nada de democrático”.
Apesar de apoiar o movimento, ele condenou a violência e vandalismo. “Isso em qualquer circunstância não é aceitável, e acaba depondo contra a própria bandeira que é levantada. Durante uma pandemia, tenho reserva com a realização de protestos nas ruas”.
O ex-ministro, que deixou governo acusando o presidente de interferência na Polícia Federal, disse esperar que o procurador-geral da República, Augusto Aras, atue com independência na investigação que tramita noSupremo Tribunal Federal (STF) sobre o caso.
“Quando prestei as declarações, nunca foi meu interesse prejudicar o governo. Eu quis explicar por que estava saindo e minha intenção era proteger a PF da interferência política. Não foi por causa do diretor em questão, da PF em questão, mas porque é uma instituição que deve agir como órgão do Estado. Quem solicitou a abertura do inquérito foi a PGR”, afirmou ele ao jornal paulista.
Ele também defendeu a investigação da Fake News, determinada pelo Supremo Tribubal Federal (STF). “Temos que diferenciar a liberdade de expressão e de imprensa, que têm de serem protegidas, da disseminação em massa de notícias falsas, ofensas e ameaças. Essas condutas não estão albergadas pela liberdade de expressão ou de imprensa. Temos os crimes de calúnia, difamação e ameaça e essas notícias falsas se inserem nesse contexto, com o agravante de que aqui estamos tratando de disseminação”, afirmou. (A Tarde)