Os resultados do segundo turno das eleições municipais deste ano confirmaram o fôlego renovado dos partidos de centro e centro-direita no país por um lado. E, por outro, exibiram a perda de força dos partidos de esquerda, em especial o PT, assim como dos candidatos alinhados com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O MDB foi o partido que mais fez prefeitos em capitais, com cinco eleitos, seguido por PSDB e DEM, ambos com quatro vitoriosos.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o prefeito Bruno Covas (PSDB) derrotou Guilherme Boulos (PSOL) com uma margem maior do que as pesquisas indicavam – 59,45% contra 40,55% do adversário que ainda assim surpreendeu ao chegar no segundo turno.
No discurso da vitória, ao lado do governador João Dória (PSDB), padrinho político que ficou escondido na campanha por causa da alta rejeição na cidade, Covas mandou um recado ao presidente Bolsonaro. “Restam poucos dias para o negacionismo e para o obscurantismo”, afirmou ele, prometendo “transformar diferenças em consensos”.
No Rio de Janeiro, o candidato Eduardo Paes (DEM) saiu vitorioso em todas as 49 zonas eleitorais, derrotando com 64,11% dos votos válidos o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), apoiado por Bolsonaro. Ao discursar, também se posicionou contra a polarização. “Nós passamos os últimos anos radicalizando a política brasileira. O resultado desse radicalismo certamente não fez bem a nenhum de nós”, disse Paes.
Em Recife, uma das duas apostas do PT para comandar uma capital nos próximos quatro anos, venceu João Campos, do PSB, filho de Eduardo Campos, morto num acidente de avião. Aos 27 anos, ele é o mais jovem a se eleger prefeito na cidade, com 56,27% dos válidos, contra 43,73% da prima Marília Arraes (PT).
Com a derrota também em Vitória (ES) para o candidato Delegado Pazolini (Republicanos), que é alinhado com o discurso bolsonarista, o PT pela primeira vez desde 1985, não elegeu prefeitos em capitais. Pazolini teve 58,50% da preferência do eleitorado e bateu o candidato petista, João Coser, que teve 41,50%.
Além disso, das 15 cidades em que disputava o 2º turno, o PT foi derrotada em 11 (entre elas Vitória da Conquista e Feira de Santana), sendo duas capitais (Recife e Vitória). A sigla só conseguiu eleger em 2º turno os prefeitos de Juiz de Fora (MG), Contagem (MG), Diadema (SP) e Mauá (SP).
Os dois candidatos a prefeito apoiados por Bolsonaro que disputavam o 2º turno também saíram derrotados: além de Crivella, no Rio, Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza, não se elegeu. Capitão Wagner perdeu para o candidato do PDT, José Sarto, presidente da Assembleia Legislativa e apoiado pelo ex-governador Ciro Gomes.
Em Porto Alegre (RS), outra derrota da esquerda: Manuela D’Ávila (PCdoB), que foi candidata a vice-presidente na chapa do petista Fernando Haddad em 2018, foi derrotada por Sebastião Melo (MDB). Ele teve 54,32% dos votos, contra 45,69% de D’Ávila.
O PCdoB também sofreu uma importante derrota em São Luís, onde o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), apostava suas fichas em Duarte Júnior (Republicanos). Ele teve 44,47% dos votos, contra 55,53% de Eduardo Braide (Podemos).
Mas os partidos do campo progressista também registraram algumas vitórias. Além de Fortaleza, o PDT também fez o prefeito de Aracaju: Edvaldo Nogueira foi reeleito após derrotar a Delegada Danielle (Cidadania)
O PSB também fez duas capitais – Recife e Maceió, onde superou o candidato apoiado pelo clã político do senador Renan Calheiros (MDB). O deputado federal João Henrique Caldas, o JHC, conquistou 58,40% dos votos. Já o PSOL conseguiu um resultado importante em Belém, elegendo Edmilson Rodrigues.
Além da nova correlação de forças, dois números se sobressaíram nas eleições deste ano. A abstenção que ficou em 29,5% – maior índice desde 1996. Já o outro chama a atenção pela escassez : apenas uma capital terá uma mulher à frente da prefeitura em 2021. Cinthia Ribeiro (PSDB-TO) foi reeleita prefeita de Palmas (TO) no 1º turno. [A TARDE]