Por José Henrique Abobreira, ex-vereador, ex-vice-prefeito de Ilhéus e ativista político.
Foram várias peregrinações a gabinetes de ministros da Justiça, audiência com o Presidente da República Itamar Franco, com a participação de várias lideranças políticas e parlamentares a exemplo de Fernando Gabeira, senadora Marina Silva, deputado Haroldo Lima, deputado Jabes Ribeiro
Na próxima terça-feira, dia 13/08, as 19hs na livraria Saraiva do Shoping Salvador, participarei de uma palestra que será proferida por Mário Magalhães, autor da obra biográfica MARIGHELLA O GUERRILHEIRO QUE INCENDIOU O MUNDO, co-adjuvado por Carlinhos Marighella filho com a mediação de Cynara Menezes. Na oportunidade, quero cumprimentar os familiares daquele heróico brasileiro, o filho Carlinhos e a valorosa companheira de Marighella d.Clara Charff, mulher altiva e valente que acompanhou o revolucionário por toda uma vida.
Tive a oportunidade de acompanhar essas duas personagens quando exerci o mandato de vereador ilheense, presidente da Comissão de Direitos Humanos e indicado pela Mesa da Casa para acompanhar os trabalhos do grupo nacional TORTURA NUNCA MAIS, na época liderado pela gaúcha Suzana Lisboa, viúva de um desaparecido preso político. Eu representava os interesses do Sr. Rosalvo Cipriano Sousa, pai do meu colega fazendário Zé Antônio e cuja família tinha perdido o filho Rosalino combatente morto e desaparecido na guerrilha do Araguaia.
Foram várias peregrinações a gabinetes de ministros da Justiça, audiência com o Presidente da República Itamar Franco, com a participação de várias lideranças políticas e parlamentares a exemplo de Fernando Gabeira, senadora Marina Silva, deputado Haroldo Lima, deputado Jabes Ribeiro. O que se pretendia era o envio pela presidência da República de um anteprojeto de lei cujo texto reconhecesse a participação do Estado Brasileiro na morte de tantos brasileiros, homens e mulheres, que tinham lutado contra a ditadura militar (a presidenta Dilma Rousseff foi uma dessas lutadoras, felizmente sem perder a vida, mas com um longo tempo de cadeia ).
Finalmente já no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o projeto foi aprovado no Congresso Nacional e sancionado por FHC reconhecendo a participação do Estado e estabelecendo indenização pecuniária às famílias dos mortos e desaparecidos e estabelecendo comissão para localização das ossadas dos guerrilheiros do Araguaia no Bico do Papagaio, estado do Pará.
Em todo esse processo que acompanhei por um bom tempo me impressionou uma passagem, no gabinete do ministro da Justiça, o dr. Nelson Jobim, ministro de FHC, quando ele inadvertidamente colocou para os familiares dos mortos e desaparecidos políticos dizendo “Já está tudo resolvido, o projeto vai ser enviado ao Congresso e logo, logo as famílias vão ter o direito a receber o dinheiro das indenizações” exclamou ele. D. Clara Charff, a viúva de Marighella, levantou-se, altiva, e disparou: “O QUE MENOS NOS TROUXE AQUI MINISTRO JOBIM FOI ESSE DINHEIRO QUE O SR. MENCIONOU. NÓS ESTAMOS AQUI PARA SER REVISTA A HISTÓRIA DO BRASIL, O ESTADO BRASILEIRO MATOU SEUS HERÓIS, ASSIM COMO ASSASSINOU MARIGHELLA, NEM NAS GUERRAS MAIS CRUÉIS NO MUNDO O ADVERSÁRIO É MORTO COVARDEMENTE, DESARMADO E SEM ESBOÇAR RESISTÊNCIA. AS FORÇAS DO ESTADO PASSARAM POR CIMA DE TODOS OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE GUERRA”.
Senti Jobim se encolher na poltrona e as suas orelhas ficarem vermelhas, ele não esperava aquele pito.