Nos últimos 3 anos no sul da Bahia, nas cidades de Ilhéus e Itabuna, dentre tantas outras, as chuvas tem causado diversos desastres. Mas será que de fato são as chuvas, as reais vilãs?
No livro ”Quem é quem na história do Brasil”, uma coletânea de 500 biografias de personalidades brasileiras, que ganhei por volta dos 11 ou 12 anos, de um jornalista já falecido, de nome Eduardo Anunciação, tinha a seguinte frase, atribuída a Renato Russo: ”A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Estou convencido de que as chuvas são inevitáveis, mas as tragédias são opcionais. Por uma opção de poderes públicos e elites mesquinhas.
A expressão racismo ambiental foi criada na década de 1980 pelo Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr. (1948 -), químico, reverendo e liderança do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Na juventude, Chavis foi assistente de Martin Luther King Jr. (1929 – 1968), pastor batista, ativista político e ganhador do Prêmio Nobel da Paz por suas ações voltadas ao combate do racismo nos Estados Unidos através da resistência não-violenta.
O conceito de racismo ambiental surgiu em meio a protestos contra depósitos de resíduos tóxicos no condado de Warren, Carolina do Norte, Estados Unidos, onde a maioria da população era negra. A situação, no entanto, não era exclusividade de Warren.
Atualmente, diz respeito às injustiças sociais e ambientais que impactam mais fortemente grupos étnicos vulnerabilizados e outros grupos discriminados por sua “raça”, origem ou cor. Isso significa que abrange negros, mas também comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e periféricas, entre outras.
Sou de Ilhéus, olhemos para o nosso município. Pense, por exemplo, onde estão instalados os aterros sanitários. Qual é o perfil dos moradores ao redor desses aterros? E quem são as pessoas que residem no entorno dos distritos industriais? Em que locais, as fábricas preferencialmente se instalam? Seria coincidência que as áreas com maior precariedade na coleta de lixo e no acesso à água e esgoto tratados serem aquelas com predomínio de pessoas não brancas e pobres?
Comunidades vulnerabilizadas e discriminadas estão mais expostas a situações de degradação ambiental e sofrem de forma mais recorrente com seus impactos, tal como com inundações, queimadas e contaminação. Sou estudante do curso de comunicação social da UESC, mora na zona sul e no trajeto passo por vários bairros, um deles o Princesa Isabel. Muitos dias após as chuvas de abril, ainda havia lama retirada pelos próprios moradores, e colocados nas portas de suas casas e na pista. A prefeitura ainda não havia retirado.
O que falar das praias do cristo, da avenida, tomadas por baronesas e descartes, vindos do rio cachoeira e extensões. É necessário que ONGS, como o grupo amigos da praia (GAP), junte moradores para limpar as praias, até que o poder público utilize máquinas. O que falar de pessoas que ano após ano tem suas casas alagadas, constantemente perdem tudo?
Muitos discursos questionam o porquê dessas pessoas continuarem em suas casas. Devolvo com outra pergunta, para onde elas irão? Não podemos legar certas realidades a meramente escolhas individuais, são gerações de famílias, vítimas de uma falta de política habitacional decente, de uma especulação imobiliárias que só beneficia uma parcela pequena de pessoas. Populações moram a beira de rios, na posta de encostas por encontrar uma mínima oportunidade ali e ficam a mercê de obras mal feitas e atrasadas, que na primeira enxurrada desaba.
As chuvas vêm no verão ou inverno, disso já sabemos. Há também uma ciência de que ruas alagarão, pessoas entrarão em desespero, temendo por perder o trabalho de uma vida. Não haverá nada a ser feito? A política do ”deixa ser, deixa estar”, não nos beneficia.
Artigo de Pedro Afonso, graduando em Comunicação Social pela UESC.