As eleições presidenciais de 2014 estão servindo, entre outras coisas, para explicitar como e quanto a emissora de TV aberta mais assistida do nosso país maneja os conteúdos que veicula de acordo com seus interesses, sem considerar os compromissos maiores que deveria ter com a sociedade brasileira.
O Bom Dia Brasil exibido na segunda-feira que se seguiu ao primeiro turno das eleições foi a prova mais patente disso. Após repisar de 8:30 às 9:30 a vitória de Aécio Neves nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o telejornal espremeu nos 15 ou 20 minutos finais a vitória de Dilma no Norte e Nordeste.
Não se trata de um episódio isolado. Não faz dez dias a comentarista de economia Miriam Leitão apresentou, no mesmo telejornal, um gráfico sobre a oscilação de produção de energia elétrica no Brasil. Nele se demonstrava uma oscilação na produção entre os anos de 1998 a 2002. Após, ocorreu um período de crescimento contínuo na produção energética, até 2009. E de 2009 em diante, nova oscilação até 2012/2013. Pois bem: O gráfico exibido ao vivo demonstrava o primeiro período de oscilação, comprimia, propositalmente, os sete anos de crescimento contínuo como se tivessem ocorrido em um único ano, e terminava destacando a oscilação final. Seria cômico, se não fosse trágico!
Os exemplos se estendem ao infinito. No dia 20/10/2014, segunda-feira, o jornalismo da Globo falou das atividades dos candidatos à presidência. Disse que, no domingo anterior, Dilma não teve agenda de campanha e que Aécio fez uma carreata na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ora, e o debate que ambos os candidatos realizaram no SBT, no domingo, ao vivo para todo o Brasil, foi o quê? Seria compreensível que a Globo não citasse o nome da emissora rival. Mas ela não tinha o direito de deixar de noticiar o debate ocorrido.
Infelizmente, o que ocorre na política também acontece em relação a tudo o mais que a Globo veicula: Economia, moda, comportamento, família, ética, moral e valores sociais. E nestes últimos temas as consequências da manipulação realizada pela Globo pode ser muito mais negativa do que nas eleições, pois nestas, ao menos, as pessoas poderão se manifestar por meio do voto, enquanto que em relação aos demais temas não há manifestação coletiva possível por parte de quem recebe a programação transmitida.
Assim, desde pelo menos 1970 é a Rede Globo, com sua hegemonia nas telecomunicações, que decide o que devemos consumir, o que é ético ou não e como devem ser as relações familiares. Também é a Globo quem cria as tendências na economia e na moda, quem estabelece o limite entre moralidade e imoralidade e impõe os valores sociais que devem prevalecer, fazendo-o há, pelo menos, duas gerações de brasileiros que, em sua imensa maioria, sequer se dão conta de tal fato.
Desejo que o próximo presidente a ser eleito, seja lá quem for, arrebente com esta hegemonia sócio-político-cultural da Rede Globo, que tem sido tão nociva em inúmeros aspectos.
Porém, esta tarefa não é só dos governos. Cabe a cada um de nós rompermos com a Rede Globo e com muito dos padrões que ela incutiu em nós. É tarefa difícil, mas temos outras opções de TVs abertas, de TVs a cabo, e de inúmeras outras mídias como rádios, jornais e, sobretudo, internet, onde podemos buscar conteúdos mais próximos daquilo que desejamos.
É, de fato, um grande desafio: deixar de sermos aquilo que a Rede Globo fez de nós e passar a buscar conteúdos para sermos o que nós realmente queremos ser.