A Bahia, estado com maior número de negros do Brasil, – são 76,6% de pessoas autodeclaradas, segundo levantamento do IBGE – é, justamente por isso, o que tem maior incidência de pessoas com doença falciforme. De acordo com Maria Cândida Queiroz, coordenadora da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a cada 650 crianças que nascem no estado, uma tem a enfermidade.
Os números proporcionais aos estados que possuem mais afrodescendentes não são simples coincidência. A doença hereditária tem origem africana e atinge, na maior parte dos casos, pessoas negras. Conforme levantamento da coordenadora da SMS, em segundo lugar está o Rio de Janeiro (com 51,7 % de negros), que atinge uma pessoa a cada mil nascimentos e, em seguida, Minas Gerais (53,5%), com um doente para cada mil e quatrocentos.
Conhecida como a doença que provoca fraqueza óssea, os principais sintomas da enfermidade são: anemia crônica, icterícia (cor amarelada na pele e nos olhos) e dores nos ossos, músculos e articulações.
Simpósio – Para discutir novas formas de tratamento e políticas públicas para portadores da doença, o VII Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme, que acontece desta quarta-feira, 20, a sábado, 23, terá a presença de cientistas brasileiros, franceses e norte-americanos no Centro de Convenções, em Salvador.
Presidido por Gildásio Cerqueira Daltro, chefe do laboratório do Hospital das Clínicas voltado para tratar pessoas com a enfermidade, o evento visa dar continuidade às ações do Ministério da Saúde no cuidado, aprimoramento da atenção e inovações tecnológicas normatizadas no Sistema Único de Saúde (SUS), que podem oferecer às pessoas com a doença, longevidade com uma melhor qualidade de vida.
O Hospital das Clínicas, vinculado à Faculdade de Medicina da UFBA, oferece desde tratamentos clínicos até cirúrgicos. Cerca de 60 pessoas são atendidas por mês com idade entre 18 e 40 anos, com problemas cardiopulmonares, neurológicos, ortopédicos e de pele. “O tratamento inicial é feito com células-tronco para regeneração das alterações ósseas”, pontua Daltro, que é professor da Universidade Federal da Bahia.
Tratamentos – No Brasil, o Ministério da Saúde disponibiliza o tratamento completo através do Sistema Único de Saúde (SUS). Em Salvador, o diagnóstico pode ser feito nas unidades básicas de referência, em um dos 12 distritos sanitários da capital baiana.
Nesses postos de saúde, são realizados diversos exames para que o paciente seja encaminhado para um centro de referência especializado, que pode ser na Apae, no Hemoba ou Hospital das Clínicas. Os medicamentos necessários também estão disponíveis nas unidades básicas de referência.
Segundo Joice Aragão, coordenadora da Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme do MS, no próprio SUS são feitos os tratamentos de alta complexidade, que inclui tratamentos de terapia celular para lesões ósseas, assistência ventilatória e internação em Centro de Tratamento Intensiva (CTI).