O câncer de colo de útero, terceira neoplasia mais comum entre as mulheres brasileiras e quarta maior causa de morte no grupo, pode se tornar uma doença residual no Brasil em até 20 anos.
Essa previsão otimista é sustentada pelo novo Plano Nacional para a Eliminação do Câncer de Colo de Útero, que foca em avanços no diagnóstico, ampliação do tratamento e intensificação da vacinação contra o HPV, responsável por quase 100% dos casos. Atualmente, a doença atinge cerca de 17 mil mulheres por ano, resultando em aproximadamente 7 mil mortes.
Entre as inovações, destaca-se a substituição do exame citopatológico pelo teste molecular de HPV no Sistema Único de Saúde (SUS). Esse método identifica com maior precisão a persistência do vírus, facilitando diagnósticos precoces e reduzindo em até 46% os casos de câncer e 51% a mortalidade, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além disso, será implementado o sistema de autocoleta, que permite que as mulheres façam o procedimento em casa, eliminando barreiras como a ausência de consultas ginecológicas.
A vacinação contra o HPV também é um pilar central do plano. Desde abril, o esquema vacinal adotado no Brasil exige apenas uma dose, simplificando a imunização e alinhando-se às diretrizes da OMS. No entanto, alcançar 90% do público-alvo — adolescentes entre 9 e 14 anos — ainda é um desafio.
Enquanto a cobertura vacinal entre meninas chega a 81,1%, entre os meninos é de apenas 56,9%, com números preocupantemente baixos em regiões como o Norte. A ampliação da cobertura, especialmente em municípios com índices críticos, será prioridade para 2024.
Apesar dos avanços, o combate à doença enfrenta gargalos como o rastreio tardio e a demora no início do tratamento. No Norte do país, onde as taxas de mortalidade são mais altas, 65% das pacientes só começam a tratar o câncer após dois meses do diagnóstico, descumprindo a lei que exige início do tratamento em até 60 dias.
A OMS estabelece como meta o rastreamento de 70% das mulheres de 25 a 64 anos e o tratamento de 90% dos casos detectados, o que demandará ampliação de exames como colposcopias e biópsias.
Com o plano, o Brasil busca transformar uma realidade alarmante em um marco global de saúde pública. A integração de tecnologias de diagnóstico, estratégias de vacinação e sistemas mais ágeis de tratamento promete salvar vidas e mudar a história do câncer de colo de útero no país.