Os índices de adesão às vacinas, em curva decrescente desde 2016 na Bahia, têm preocupado a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), principalmente com a comprovação de que o vírus do Sarampo já está circulando no território baiano, com a confirmação de oito casos em Santo Amaro e Jacobina nesta semana.
Os índices de imunização da população baiana referentes à vacina tríplice viral, que protege contra os vírus do sarampo, caxumba e rubéola, tiveram o melhor resultado dos últimos anos em 2014, quando o total de público alvo alcançado foi de 114,85%. Naquele ano o estado ficou acima da média nacional de vacinação, que foi de 112,80%, e ocupou a sua melhor posição no ranking dos estados, sendo o 9º. No entanto, desde de 2016 os índices de público alcançado vêm caindo. Em 2018 os número da Bahia ficaram entre os três piores do Brasil, com 79,48% do público alvo atingido.
Técnico da coordenação de imunização da Sesab, Ramon Saavedra diz que não é possível eleger um único fator para a redução da vacinação. Mas chamou a atenção para a “falsa sensação de segurança”. “Essa geração de pais atual não conviveu com a doença, com doentes com sarampo ou crianças com paralisia infantil, então com isso a percepção de risco fica menos aguçada e [os pais] começam a achar que a vacina não é imprescindível”, argumentou Saavedra, ao completar que falta entendimento de que o fato dessas doenças não existirem em grandes proporções atualmente é resultado das vacinações em massa que aconteceram no país nas décadas de 1970 e 1980.
A redução nos números de cobertura ainda pode ser associada, segundo Saavedra, à difusão de movimentos antivacinais em grupos nas redes sociais, a questões filosóficas e ideologias religiosas.
Em 2019, até o momento, a Sesab informou que foram aplicadas 388.717 doses da vacina tríplice viral em toda a Bahia. Entre 2000 e 2019, considerando pessoas abaixo de 50 anos, o estado imunizou 7,6 milhões de pessoas, o que representa 65% da população alvo.
Na próxima segunda-feira a pasta inicia uma campanha de imunização contra o sarampo. A ação acontecerá de 7 a 25 de outubro, com o Dia D em 19 deste mês.
Às pessoas que possuem qualquer receio sobre a vacinação, Ramon Saavedra destacou a importância de estar imunizado e tranquilizou quanto aos possíveis efeitos colaterais ou reações. “Ainda que [a vacina] possa provocar reação, como qualquer medicamento, ainda assim é importante deixar claro que na avaliação risco-beneficio o beneficio é infinitamente maior”, defendeu o técnico de imunização da Sesab.
Sobre a mobilização da sociedade para que se retome aos bons índices de vacinação, o especialista apontou que o trabalho deve ser feito em conjunto com vários agentes. “Aí entra o serviço de saúde, dos gestores públicos, população em geral, conselhos de classe, educação, para que a gente volte a motivar uma cultura da vacina que foi tão forte em 1980”, lembrou Ramon ao acrescentar que a Sesab vem trabalhando desde 2017 em um plano de melhoria da cobertura vacinal.
“A gente precisa rever estratégias de vacina, conversando com municípios, para que essa vacinação ocorra além da passiva, aquela de ficar esperando a população ir à unidade de saúde tomar a vacina. Precisamos de atividades ‘extramuros’”, defendeu.