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ELEIÇÃO DE PASTORES, DE MILITARES E OS ANSEIOS DO POVO

JULIO GOMES

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

Chama atenção de qualquer pessoa mais observadora a expressiva votação obtida, na Bahia, pelos candidatos diretamente ligados aos militares e às igrejas, sobretudo evangélica: Vejamos: Pastor Sargento Isidorio 123.234 votos; Soldado Prisco 108.041 votos (respectivamente o segundo e terceiro mais votados para Deputado Estadual); Pastor José de Arimateia 81.079 votos, deputada Ângela Souza 41.013 votos.

O fenômeno não se restringe aos deputados estaduais. Irmão Lázaro, candidato a Deputado Federal, foi eleito como o segundo mais votado para a Câmara dos Deputados na Bahia, com 161.438 votos.

Tais fatos podem apontar para o quanto estas instituições – Igrejas e Polícia Militar – se tornaram importantes e representativas, conscientes de sua força políticas e das propostas que anseiam defender no plano político-institucional, dentro do Poder Legislativo.

Entretanto, também podem indicar o quanto nossa sociedade se encontra carente de autoridade (não de autoritarismo), de presença do Estado, de limites para determinados excessos de liberdade, que nos dão a impressão de que não existem leis, nem idosos, nem crianças, nem profissionais nem pessoas ou coisa alguma que mereça respeito na bagunça generalizada que, equivocadamente, alguns acham que seja democracia.

A democracia, diga-se, não é a ausência de conflitos sociais, mas a possibilidade efetiva de solucioná-los por meio de debates e decisões tomadas socialmente, com a participação direta do povo e/ou de seus legítimos representantes.

A eleição de pessoas ligadas à Igreja pode significar que há uma demanda social por mais respeito aos valores cristãos, por mais respeito à vida humana e às famílias, ao direito que as crianças têm de ser inocentes em sua infância, aos direitos do nascituro de não ter a gestação interrompida mediante um aborto, ao direito de afirmar-se cristão sem ser objeto de quaisquer tipos de discriminação.

Já a eleição de militares – além de ser um clamor pela vida e integridade física por parte daqueles que em seu exercício profissional enfrentam à criminalidade – também pode significar um forte desejo social de impor limites para quem comete crimes mais graves por meio da aprovação de leis penais mais rígidas; uma manifestação social por mais Segurança Pública, com a preocupação de garantir direitos para quem quer estudar, trabalhar e produzir, e não somente para quem comete crimes.

Tomara que a eleição de pastores e militares sirva a estes propósitos maiores, de defesa dos valores cristãos e da vida em seu conceito mais amplo, no caso da Igreja; e das instituições governamentais imprescindíveis à existência de um Estado Democrático, pois não existe Democracia sem Polícia, da mesma forma que não existe democracia sem imprensa livre, sem partidos políticos, sem Poder Judiciário, sem Ordenamento Jurídico e sem respeito aos direitos do cidadão e da pessoa humana.

Torço, sinceramente, para que tais mandatos não se percam no imediatismo corporativista, nem em uma defesa tacanha de interesses menores ou escusos encastelados em suas instituições. Porque a Democracia, para se estabelecer e frutificar, necessita que as pessoas olhem para algo mais além do que o seu próprio umbigo.

Julio Cezar de Oliveira Gomes

Graduado em História e em Direito, ambos pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz