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ESTUDANTE DE DIREITO CONVOCA A “MARCHA DA FAMÍLIA” EM ILHÉUS

EDITORIAL | [email protected]
O cartaz oficial da marcha fala por si só. Ao lado, o culto do rapaz à jornalista do SBT.
O cartaz oficial da marcha fala por si só. Ao lado, o culto do rapaz à jornalista do SBT.
Este blog prepara uma cobertura extraordinária para o maior evento de rua das últimas décadas em Ilhéus. Não, não é o carnaval quem está de volta à cidade, mas um pesadelo que alguns desavisados querem fazer retornar aos dias atuais.
Se trata da “Marcha da Família com Deus Pela Liberdade”, que completou 50 anos no último dia 19 e serviu como um verniz de legitimidade ao golpe militar de 1964. O mega evento está marcado para acontecer em Ilhéus, no próximo dia 22, sábado, às 15h, com saída da 18ª Circunscrição Militar, na Rua Rotary, Centro da cidade.
Pra quem tem pouco tempo de vida, como este redator que vos escreve, explico: a marcha foi puxada por esposas de políticos e cidadãos de classe média. Por trás do movimento, setores do empresariado, partidos de oposição, a Igreja e até a CIA arquitetavam tudo, temendo um golpe comunista no Brasil e os avanços em setores sociais. Avanços esses, como a retomada da reforma agrária, tocados pelo então presidente João Goulart. 
Jango, como todos sabem, foi deposto poucos dias depois da marcha, quando iniciava, em 1 de abril de 1964, os 20 anos de ditadura militar no Brasil.
Segundo o pesquisador Luiz Antonio Dias, chefe do Departamento de História da PUC-SP, em entrevista ao Globo, a marcha de 50 anos atrás reuniu 100 mil pessoas pelas ruas de São Paulo e não representava a vontade da maioria dos brasileiros. À época, pesquisas indicavam que 50% da população era favorável ao governo de Jango, contra 30% que o rejeitava.
Cinquenta anos depois, o temor é o mesmo. Longe de oferecer o risco de um golpe comunista, a presidente Dilma Rousseff representa, ainda, o que há de mais avançado no espectro político, principalmente quando se trata de permitir aos mais vulneráveis ocupar melhor espaço na sociedade. E isso assusta muito a elite brasileira.
O cenário passa a ser mais ridículo quando se trata de uma cidade que se tornou significativa por ter passado glorioso dominado por coronéis de cacau de um lado e trabalhadores semi-escravizados colhendo o fruto no pé de outro.
Voltando de vez à nossa pequena realidade, em Ilhéus, a marcha da família [rica] é convocada por um estudante de Direito de uma faculdade particular. Para estudar, o rapaz, de 21 anos, desembolsa cerca de 750 reais de mensalidade. Dinheiro não é problema.
No facebook, dissemina elogios à jornalista Rachel Sherazade, aquela que pediu, em rede nacional de TV, por mais negros amarrados em postes e disse compreender quando isso acontecia. Com a mesma intensidade que ama a jornalista, o puxador da marcha odeia, detesta, tem pavor da presidente Dilma Rousseff.
Em release enviado ao ILHÉUS 24H, o rapaz afirma que a marcha é para “reforçar os valores familiares e demonstrar a insatisfação com as politicas públicas nos âmbitos econômico e social. O governo do PT está destruindo o modelo de família, com o nefasto objetivo de deter o controle sobre uma grande massa de jovens, para a sua perpetuação no poder” encerra. Sobre esse assunto, recomendamos ao estudante ler artigo que fala da redução da pobreza no País nos últimos anos. É só clicar aqui.
Para não restar dúvida do posicionamento político do puxador da marcha, na própria rede social, o jovem estudante de direito de universidade particular se declara de “extrema direita”.
Aí perguntam “é errado ser de direita ou de extrema direita”? E respondemos: Jamais. No entanto, os vinte anos de ditadura nos mostraram que errado é defender seu retorno, cultuar ‘Sherazades’ e pregar o ódio contra a líder da nação só por ela tentar (tentar!) incrementar medidas de avanço social que tanto ameaçam (será?) a redoma de vidro em que vive nossa elite de mente tacanha.
O ato, segundo o estudante de faculdade particular, tem o apoio da PM e do dentista Eduardo Rocha, ex-candidato a vereador e ex-ocupante de cargo comissionado na prefeitura de Ilhéus. 
Ratificamos: a marcha, em Ilhéus, é facilmente compreendida, mas, esperamos, deve ser pouco aceita. Cidade acostumada com coronéis jamais aceitaria presenciar a ascensão social proporcionada por Lula e Dilma.
Então, que sejam convocadas marchas, não pelo ódio ao avanço social ou a quem o proporciona, mas para que se garantam mais direitos amplos, como o à educação. Quem sabe assim, o estudante de faculdade particular possa ser aprovado numa universidade pública sem precisar pagar a exorbitante mensalidade.