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GUERRA ÀS ÁRVORES EM ILHÉUS

JULIO GOMES
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e Direito pela Uesc.

Desta vez, vou me permitir um texto que vai da crítica à mais mordaz ironia. Vamos lá:

Precisamos, urgentemente, criar uma força-tarefa para arrancar todas as árvores de Ilhéus!

Todos os dias cidadãos encaminham à Prefeitura inúmeros pedidos e requerimentos administrativos para que o Poder Público Municipal faça o corte de árvores, a maioria delas situada em imóveis particulares.

A Prefeitura, por sua vez, possui um setor denominado Parques e Jardins, que não consegue jamais cuidar nem de parques, nem de jardins, pois passa o tempo todo cortando árvores, muitas e muitas delas situadas em terrenos e casas privados.

É claro que não é atribuição do Poder Público cortar ou podar árvores em imóveis particulares. Mas os gestores de nosso Município, desde a época dos coronéis-intendentes até os atuais prefeitos, nunca deixaram de fazê-lo, afinal tanto é uma forma de usar a máquina pública em favor de particulares, incluindo a si próprios; como de usá-la para fazer média com os “amigos” e depois pedir um votinho. Une-se o útil ao agradável!

Todos sabem que árvores causam impagável prejuízo ao quebrar tubulações e estragar passeios. Que sujam as ruas o tempo todo com folhas, galhos e, por vezes, até com flores, sendo, sem dúvida alguma, as únicas culpadas pela imundície em que se encontra a nossa cidade!

Árvores jogam seus galhos sobre os carros, quebrando-os. Se forem frutíferas ou florirem, aí então a sujeira será absolutamente insuportável, além de ter o inconveniente de, vez por outra, alimentar a um faminto ou fazer a alegria de uma criança!

Árvores estragam as fundações das casas, impedem que se visualize a propaganda que está na fachada dos comércios – e todos nós sabemos o quanto a propaganda embeleza uma cidade!

Elas também atrapalham o acesso às garagens e impedem os carros de ter maior número de vagas para estacionamento, sendo, sem dúvida, sinal de atraso provocado pela natureza, que precisa ser imediatamente dominada, vencida e abatida, pois atravanca a urbanização, a indústria e o comércio. Árvores são, em tudo, contrárias ao progresso!

Nós, cidadãos, obviamente também temos um importante papel a desempenhar nesta guerra às árvores: Devemos clamar a todos os momentos para que o Município – e até mesmo os particulares, por si ou por meio de empresas – também façam sua parte, eliminando árvores sempre que possível. Nós mesmos temos de dar nossa contribuição pessoal, cortando, quebrando, arrancando as que ameaçam nascer e cimentando pátios e jardins, para que se possa prevenir todo o mal que advém do crescimento destes tenebrosos vegetais.

Agindo desta forma, chegará finalmente o dia em que não teremos mais nenhuma única árvore em Ilhéus. Nos livraremos para sempre do verde que simboliza o atraso, o primitivismo, e teremos uma cidade inteiramente calçada, cimentada, com o solo todo impermeabilizado para que, assim como hoje ocorre em São Paulo, qualquer chuva um pouco mais forte possa causar terríveis transtornos, o que servirá como prova inequívoca de que nos tornamos moradores de uma cidade muito importante!

Nesse dia, poderemos orgulhosamente exportar este modelo civilizatório e urbanístico para o mundo, que decerto irá nos admirar e nos parabenizará pela capacidade que tivemos de realizar plenamente o progresso!