O jovem suspeito de postar nas redes sociais ofensas racistas e ameaçar de morte a jornalista e humorista de stand up comedy Maíra Azevedo, conhecida como “Tia Má”, se apresentou na tarde desta quarta-feira (14), na 1ª Delegacia de Polícia Civil, bairro dos Barris, em Salvador, acompanhado da mãe e de advogados.
Em depoimento, José Raimundo Pita Barreto Junior, de 23 anos, se disse arrependido do que fez, alegou que sofre de problemas mentais desde que a esposa morreu, há cerca de sete meses, e que ofendeu a jornalista após ter um surto. Contou, ainda, que não teve intenção de fazer mal nenhum à Tia Má e que as ameaças foram só da boca para fora.
José contou que conheceu Tia Má pela televisão e que virou fã dela. Durante uma das aparições da jornalista na TV, no entanto, ele afirmou que se lembrou da esposa, que também era negra, e, por isso, “perdeu a cabeça”.
“Eu falei que ela era ‘macaca preta’, agredi verbalmente, disse que ia na casa dela. Mas isso foi num momento de raiva. Eu perdi minha esposa, que faleceu, e descontei numa pessoa que não tem nada a ver com isso. Então, peço a ela desculpas. Quero pedir a ela pessoalmente. Não sou racista. Fui errado e me arrependi plenamente”, afirmou, em entrevista ao G1.
Ele disse que não se apresentou antes à polícia por medo, devido à repercussão do caso na imprensa. O advogado do jovem, Paulo Cesar Jr, contou que o cliente passou a apresentar um “comportamento diferente” após a esposa morrer na mesa de parto, em decorrência de uma hemorragia, durante o nascimento da filha do casal. A criança sobreviveu e hoje tem sete meses de idade.
“Ele sofre de problemas psíquicos por conta da perda da esposa dele e também por conta da perda da filha, que foi tomada pela avó materna pelo fato de ele não ter condições financeiras e psicológicas de criar. Diante de tudo isso, a mente dele não conseguiu mais associar o que era real e o que era fictício. Ele vendo o vídeo da Tia Má, provavelmente, ele deve ter associado à imagem da esposa. Algo pode ter remetido à companheira e houve um momento de ira. É uma pessoa do bem. Não é racista, é trabalhador”, disse.
José Raimundo mora atualmente no bairro do Cabula, em Salvador, com a mãe e trabalha como vendedor. “Os pais já perceberam o comportamento dele, porém não foi tomada uma medida no sentido de acompanhamento psicológico e a situação dele se agravou até chegar a esse ponto”, afirmou o advogado.
A delegada Maria Dail, que investiga o caso, disse que vai pedir que o suspeito seja submetido a um exame de sanidade mental. Ainda segundo ela, como não houve flagrante, José Raimundo não ficará preso. Ele, no entanto, deixou o celular na delegacia, para ser periciado.
“À primeira vista, a gente vê que é uma pessoa que não está com o juízo perfeito, que tem algum tipo de transtorno e já teve parentes com esquizofrenia. Vou representar pelo exame de sanidade mental dele, um exame cuidadoso com psiquiatra. A família também já vai procurar um médico num hospital público, porque é carente e não tem plano de saúde. Ele pode ser perdoado por ele. Depende muito do que a vítima vai decidir, mas o caso será encaminhado à Justiça”, destacou a delegada.
Jornalista comentou apresentação
Após José Raimundo se apresentar à polícia, nesta quarta, Tia Má usou as redes sociais para, novamente, se manifestar sobre assunto. Ela postou um vídeo comentando o aparecimento do suspeito.
“Hoje é quarta-feira, dia de justiça para quem é de axé! E foi hoje que a pessoa que me agrediu com verbetes racistas e depois ficou me ameaçando foi parar na delegacia. A questão é que racistas, depois que cometem o crime, querem pedir desculpas e dizer que não foi nada demais, que tudo não passou de um mal entendido. Ou o que tem se tornado padrão…que o criminoso é uma pessoa doente. NÃO SÃO DOENTES…SÃO CRIMINOSOS E SE TEM ALGUM DISTÚRBIO QUE SEJA TRATADO EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DE ALGUM PRESÍDIO. #racistas #racismo #racism #racismoecrime”, escreveu. Do G1.