Lula solto depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu que um réu condenado deve aguardar o fim dos recursos judiciais em liberdade, gera incertezas para ele, seus acólitos e para o próprio PT que hoje encontra-se mais dividido que gomos de laranja dentro de uma mesma casca. O que vai ser do ex-presidente fora da prisão de Curitiba? Enquanto ele se manteve na proscênio o seu partido perdeu rumo no debate nacional e vários dos seus caciques estão atrás das grades ou esperando quietos para ver o que acontece perante a Justiça. Com a chegada de Lula, de volta, forçosamente terá de se posicionar perante as questões que arrepiam o país, como a falta de preparo emocional e político de Bolsonaro e todas as políticas equivocadas de um governo que se mostra confuso em sua filosofia e que perde simpatizantes aos borbotões.
Lula terá a obrigação de enfrentar Bolsonaro. Mas, não seria o roto em batalha contra o esfarrapado? Claro que esse questionamento vai levar o senhor que é bolsonarista a dizer que sou petista e a senhora lulista que venho a ser admirador dos Bolsonaros. É consequência da doutrina que vem sendo grassada de que não existe meio-termo, não existe o dissonante e que os neutros não merecem o caminho do céu.
Mas, sejamos sinceros o julgamento do STF – que foi contaminado pelo “Caso Lula” – pode se tratar de uma verdadeira arapuca. Lula livre vai poder ir ao shopping sem causar uma balbúrdia? Vai poder se inserir nas discussões que hoje assoberbam o Congresso Nacional? Sua opinião será ouvida além da atenção dos seus fiéis e admiradores? Se bem que o Brasil é sempre uma incógnita. A questão, minha gente, é que a decisão do STF libera Lula de Curitiba – para onde foi levado sem que o país se tornasse um Chile e não pegoasse fogo – não significa que terá seus direitos político restituídos. Mas (aí vai outra interrogação, pois a situação é imperativa de interrogações), restitui seus direitos políticos? Dará ao homem um atestado de inocência?
Lula enfrentará antes que o ano termine mais dois julgamentos de peso. 1 – A Segunda Turma do Supremo avaliará se o ex-juiz Sergio Moro conduziu o processo do tríplex de forma legal. Mesmo que os ministros decidam nesse sentido e a condenação que levou o ex-presidente à cadeia venha a ser anulada, retorna para a primeira instância em Curitiba; 2 – O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, de segunda instância, avalia sua condenação por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia (SP). Já foi sentenciado em primeira instância pegando 12 anos e 11 meses de prisão.
São várias as questões pesando contra Lula e que poderá acarretar num senta, levanta, vai e volta. Tem o a questão do tríplex: condado que foi sob a acusação de ter recebido propina da construtora OAS por meio da reforma. Sua defesa diz que ele não é dono. Tem a “Operação Janus” em que ele é acusado de corrupção passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro ao beneficiar a Odebrecht em obras em Angola. ] Coisa que a defesa garante que ele nunca participou das tratativas. Vem também a questão do terreno que teria sido dado pela Odebrecht para construção doi Instituto Lula. A defesa observa que o órgão funciona em outro local. Lula também é acusado de corrupção do caso dos aviões caças, sobre a MP 471 que beneficiava empresas, propinas, sobre o quadrilhão do PT e mais alguns. A defesa garante que Lula sofre perseguição política.
Não é fácil a situação de Lula na cadeia e não será na rua. Sem falar que senadores já se articulam para tentar aprovar uma PEC revertendo a decisão do STF e garantir o retorno da prisão em segunda instância. Lula já poderia estar solto, mas sabiamente (para não usar malandramente) pediu à Justiça o direito de recusar o benefício. Disse não querer barganhar sua liberdade. E agora José?
Artigo do escritor e jornalista. Autor de “Histórias da Bahia – Jeito Baiano” e “Baianadas…”. Email: [email protected]