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MARCHA CONTRA A CORRUPÇÃO. SERÁ?

RODRIGO CARDOSO

Rodrigo Cardoso é presidente do PCdoB de Ilhéus e do Sindicato dos Bancários.
Rodrigo Cardoso é presidente do PCdoB de Ilhéus e do Sindicato dos Bancários.

Tenho visto uma convocação para uma “Marcha Contra a Corrupção” em Ilhéus. Segundo um dos organizadores, não marcharão por impeachment, “mas para apoiar quem realmente quer investigar a punir os culpados”. Com essa designação genérica contra a corrupção, me somo a todos os que se indignam com a ocorrência de desvios de verbas, superfaturamentos, enriquecimentos ilícitos, etc.

Considero muito positiva a afirmação de que não se quer alimentar o golpismo travestido de pedido de impeachment de uma presidenta em início de mandato e que não é investigada por nenhum crime.

Porém, mesmo concedendo à boa-fé dos organizadores, não consegui entender a razão de uma marcha ao Ministério Público Federal, em um dia de domingo, para entregar um documento, talvez a um vigilante, que, por certo, não tem a atribuição de recebê-lo.

Também não compreendi por que o apoio seria apenas aos responsáveis pelas investigações da chamada operação “Lava Jato”. O cartel das obras do metrô de São Paulo, ou a construção de um aeroporto com recursos públicos em terreno de familiares de um presidenciável não mereceriam também ser alvos dessa marcha?

Quem sabe o escândalo das contas do HSBC da Suíça, na qual 8 mil brasileiros depositaram mais de 20 bilhões de reais em um caso gigantesco de, no mínimo, sonegação fiscal, crime que muitos que adoram bradar contra a corrupção, no mínimo, fingem que nem existe? Posso até supor que a boa-fé de alguns esteja sendo manipulada por outros que tem o objetivo de se somar a golpistas confessos que estarão nas ruas no mesmo dia.

Contudo, enquanto defensor intransigente de nossa frágil democracia que precisa ser aprimorada – por exemplo, com uma Reforma Política Democrática que acabe com o financiamento empresarial das eleições diminuindo o peso do poder econômico que a distorce e está na raiz da maior parte da corrupção estatal – não posso me dar ao luxo de me omitir do debate.

É necessário ficar muito claro para todos, que marchar contra a corrupção, NESSE DIA, é alimentar, não o combate a esse mal – que precisa ser feito todos os dias principalmente fortalecendo a transparência e as instituições democráticas, de fiscalização e controle social -, mas os setores políticos e econômicos que foram derrotados nas eleições e nem hesitam em colocar em risco a democracia para tentar retornar ao poder e interromper o processo lento, mas constante, de redução das desigualdades e criação de um país com oportunidades para todos, principalmente os que estão nos andares mais baixos da pirâmide de renda. Nessa, eu não vou.