Tem esse cara que já foi um tipo de ídolo no início da adolescência, mas que hoje vive pedindo grana no centro.
Basta me ver e vem logo correndo, a sonhar com cinquinho ou até mais, e eu às vezes dou, sem pensar muito no destino daquilo, embora nunca tenha sido um cara abonado. Talvez por isso o dinheiro saia mais fácil do meu bolso. De todo modo, hoje, ao passar pela praça Cairú, ele me viu, em seguida gritou e veio correndo em minha direção numa velocidade incrível.
Parou na minha frente, apertou forte a minha mão e, quando ia dizer algo, eu mandei:
-Fera, me empreste dez pilas.
Ele ficou parado, sem entender. Depois de alguns segundos, apertou mais forte a minha mão, e respondeu, sem jeito.
-Agora eu não tenho, mas pode me procurar depois.
Deu pena. Acho mesmo que ele me emprestaria a grana se tivesse naquele instante, respeitando uma espécie de código de ética que existe na malandragem, porque de certa maneira, e de algum modo, eu sou um tanto malandro também, ou pelo menos finjo ser mais ou menos bem. Mas a verdade é que eu me arrependi de ter pedido a grana. Eu o tinha constrangido. Esse tipo de coisa não se faz com os heróis, mesmo os falidos.
– Man, você foi meu ídolo – eu disse pra ele.
– Pode crer – respondeu.
– Sério. Lembro de você com os cabelos grandes entrando com uma turma naquela casa abandonada da avenida pra fumar baseado. Eu achava que vocês botavam pra fuder.
Ele ficou rindo. Os dentes em petição de miséria. Acho que não sabia o que falar. Então alguém passou do outro lado da praça, ele esticou o pescoço e gritou. Em seguida saiu em disparada, já esquecido do que eu tinha acabado de lhe dizer.