Três meses após deixar o cargo de ministro da Justiça, Sérgio Moro criticou o governo de Jair Bolsonaro, em entrevista ao jornal britânico Financial Times, alegando ter sido usado para passar uma falsa imagem de combate à corrupção.
“Uma das razões para eu sair do governo foi que não estava se fazendo muito [pela agenda anticorrupção]”, disse Moro. “Eles estavam usando minha presença como uma desculpa, então eu saí. A agenda anticorrupção tem sofrido reveses desde 2018”, acusou.
O jornal comentou sobre o contexto da saída do governo, após acusar o presidente de interferir politicamente na Polícia Federal. “Ele mudou o diretor da Polícia Federal sem pedir minha opinião e sem uma boa causa. Não acho que seja possível combater corrupção sem respeitar a lei a autonomia das instituições que investigam e denunciam crimes”, afirmou o ex-ministro.
Hoje visto pelo governo como possível adversário em uma futura eleição, Moro comentou também a aproximação de Bolsonaro com o chamado “centrão”, classificado pelo jornal como “controverso bloco de partidos conhecidos por oferecer apoio em troca de cargos políticos”. Segundo o ex-juiz, “no começo, o governo parecia evitar esse tipo de prática, mas hoje em dia não tenho tanta certeza”.
Questionado sobre as mensagens da “Vaza Jato” divulgadas pelo The Intercept Brasil em parceria com outros veículos de comunicação brasileiros, ele repetiu o que tem dito na imprensa nacional: “Não reconheço a autenticidade daquelas mensagens. Não havia nada lá que pudesse comprometer o caso”, disse. Para o Financial Times, as mensagens atribuídas a ele e aos procuradores da Lava Jato “machucaram a reputação da operação”. [BN]