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OPINIÃO: MARK ZUCKERBERG, “LIBERDADE DE EXPRESSÃO” E O JOGO DE PODER QUE JORNALISTAS NÃO PODEM IGNORAR

Artigo de Pedro Afonso.

Nesta terça-feira (07), Mark Zuckerberg anunciou mudanças significativas nas políticas da Meta, como o fim do programa de checagem de fatos terceirizado, substituído pelas “Notas da Comunidade”. O discurso, embalado pela defesa da liberdade de expressão, soou atraente para muitos.

Mas será que é realmente sobre liberdade?

Como jornalista, me senti provocado a refletir sobre o que está por trás dessa decisão. O contexto político não pode ser ignorado: as críticas veladas ao “judiciário secreto” em países da América Latina foram interpretadas como uma indireta ao Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil, especialmente após a reeleição de Donald Trump reacender debates sobre liberdade de expressão versus responsabilidade digital nos EUA.

Zuckerberg não é apenas o CEO de uma das maiores empresas do mundo; ele é um player político. Controlar a narrativa nas redes sociais – plataformas que determinam o que é visto e o que é ocultado – lhe confere um poder sem precedentes na formação da opinião pública. Quando esse poder é usado para deslegitimar instituições democráticas, como o judiciário, a questão deixa de ser liberdade de expressão e se torna influência política com claros interesses estratégicos.

É aqui que entra o papel do jornalismo:

Desconstruir discursos simplistas. Liberdade de expressão não é um salvo-conduto para enfraquecer democracias.

Contextualizar decisões e suas implicações. O fim da checagem de fatos terceirizada pode facilitar a disseminação de desinformação e colocar mais responsabilidade nas mãos de “voluntários” sem formação específica.

Educar o público. Desinformação não é inocente; ela é uma arma poderosa.
Essas mudanças na Meta exigem de nós, jornalistas, atenção redobrada. Precisamos compreender que discursos como o de Zuckerberg não são neutros, mas estratégias para moldar debates globais.

Liberdade de expressão não significa ausência de responsabilidade – e não podemos normalizar discursos que utilizam o conceito como cortina de fumaça para influenciar instituições e desestabilizar democracias.

Fontes:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4gzn410knvo

https://www.terra.com.br/byte/america-latina-tem-tribunais-secretos-de-censura-diz-zuckerberg-ao-acabar-com-moderacao-na-meta,622a0b5c3c313601ebfb828e3df588fbs572e66s.html