O piloto da lancha que bateu contra outra embarcação e causou duas mortes na ilha de Boipeba, destino turístico no baixo sul da Bahia, é reincidente e estava embriagado quando se envolveu no acidente, na tarde de sexta-feira (29). A informação foi dada pelo coordenador da 5ª Coordenadoria Regional de Polícia Civil, José Raimundo Nery Pinto, neste sábado (30).
Além da Polícia Civil da Bahia, a Capitania dos Portos também investiga o caso e divulgou, com base no depoimento de testemunhas, que as duas embarcações bateram de frente em um local conhecido como “Rio do Inferno”.
Conforme o delegado, após colidir, a lancha afundou e duas pessoas morreram ainda no local, antes de receberem atendimento médico. Outras duas vítimas, que estavam na embarcação atingida, tiveram ferimentos, entre elas, o piloto.”Ficamos sabendo que o marinheiro chegou a dar socorro [às vítimas], mas depois ele evadiu do local do acidente e foi detido logo em seguida”, disse José Raimundo.
O suspeito, que não teve nome divulgado, foi encaminhado inicialmente para a delegacia de Cairu, também no baixo sul, e depois para a delegacia de Valença, na mesma região, onde segue à espera de audiência de custódia.
Segundo o delegado, o suspeito tem licença para pilotar e a carteira, que foi aprendida pela Marinha, está dentro do prazo de validade. No entanto, ele é suspeito de ter cometido uma infração grave.
De acordo com o Nery, passageiros afirmaram ter visto o piloto ingerindo bebida alcoólica durante o passeio e ele apresentava sinais de embriaguez quando foi preso, contudo, o teste de etilômetro (bafômetro) ao qual ele foi submetido não detectou presença de álcool.
“Possivelmente, isso se deu pelo tempo que demorou para [o teste] ser feito, porque o acidente aconteceu umas 15 horas e esse teste foi feito já por volta das 23 horas, pela própria Marinha”, detalhou, acrescentando que o resultado do procedimento deverá sair em 10 dias, mesmo prazo em que serão apresentados aos autos do inquérito.
Ainda conforme o delegado, o investigado é reincidente. “Teve uma situação, meses atrás, em que ele também fazia uso de bebida alcoólica e se envolveu em um acidente, em que uma pessoa se lesionou levemente. Ele já responde por esse caso, ou seja, ele reiterou já nessa prática delituosa. A gente já sabe que é uma pessoa contumaz em navegar fazendo ingestão de bebida alcóolica e com velocidade excessiva”.
O acidente ocorreu em um local conhecido como “Rio do Inferno”, nas imediações do Encantado, no trecho conhecido como Cruzinha, na ilha.
A embarcação atingida saiu de Valença e transportava passageiros até Boipeba, em uma viagem que dura, em média, uma hora e meia. A outra fazia um passeio pela região, o chamado “Volta à Ilha”, que contorna o território e faz paradas em pontos estratégicos. “Esse homem fazia o passeio de ‘Volta à Ilha’, trafegava em sentido oposto. Já nas proximidades de Boipeba, por estar com velocidade excessiva e também por estar supostamente sob efeito de bebida alcoólica, ele causou esse acidente”, declarou o delegado.
José Raimundo descreveu o “Rio do Inferno” como um canal estreito onde, quando o nível do rio baixa, é necessário navegar com velocidade reduzida, para evitar acidentes. “Pelo que foi apurado pela Polícia Civil e também pela Marinha, ele seguia com velocidade excessiva”.
De acordo com a Polícia Civil, duas pessoas que estavam na mesma lancha morreram no local. As vítimas foram identificadas como Mário André Machado Cabral, de 34 anos, natural de Maceió (AL), e Larissa Fanny Galantini Pires, de 35 anos, de Goiânia (GO).
Os corpos foram levados para o Instituto Médico Legal de Valença, no baixo sul, para serem necropsiados, e ainda não tinham sido liberados, até as 12h deste sábado.
Uma mulher, que não teve nome divulgado, chegou a ficar desaparecida e foi localizada horas depois. Neste sábado, ela está no Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus, no recôncavo baiano, e o quadro de saúde é considerado estável.
De acordo com a empresa Transportes Datolli, responsável pela lancha que fazia a travessia de Valença para Boipeba, o piloto da embarcação tem mais de 20 anos de experiência na função. O homem foi gravemente atingido na colisão e está hospitalizado. O nome dele não foi divulgado.
Em nota, a empresa informou que a lancha partiu ao meio quando foi atingida pela outra embarcação, e diz que há outras pessoas feridas, porém, não detalhou a quantidade e nem para onde foram levadas.
Saiba quem eram as vítimas do acidente:
Mário André era natural de Maceió e morava em São Paulo. Ele estava a passeio por Boipeba.
Advogado formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutor em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo (USP), ele se dedicou por 17 anos à vida acadêmica. Mário também tinha mestrado na Universidade de Nova York (NYU).
Atualmente, Cabral realizava uma pesquisa de pós-doutorado na Fundação Getulio Vargas (FGV), e havia sido selecionado para se tornar professor na instituição. Ele iria começar em fevereiro como docente de Direito dos Negócios. A Faculdade de Direito da USP e a FGV lamentaram a morte de Cabral, ressaltando suas trajetórias nas instituições.
A FGV publicou em nota de pesar:
“Profissional dedicado ao Direito concorrencial e ao Direito dos negócios, teve uma marcante experiência docente e destacada trajetória na advocacia. Lembraremos sempre de sua inquietação intelectual, de sua vivacidade acadêmica e da gentileza de sua convivência. Nos solidarizamos ao dor de seus parentes e amigos”. Cabral deixa a mãe e o irmão.
Já Laryssa Galantini era natural de Goiás e atuava como bióloga, formada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além deeducadora e ativista ambiental na Chapada dos Veadeiros.
Em 2016, ela foi eleita covereadora em mandato coletivo para a Câmara Municipal de Alto Paraíso de Goiás (GO) ao lado de outros quatro ativistas.
Laryssa também atuava em diversos movimentos feministas e de preservação ambiental. O Instituto Biorregional do Cerrado lamentou a morte da bióloga e afirmou que ela era “uma linha ativista de frente, sempre disposta a lutar pelas causas difusas”.
Lary era jovem, vibrante, alegre, sorriso no rosto, cheio de energia, projetos e sonhos. Era conciliadora, executava muitas coisas, acreditava no poder da educação e política para transformar o mundo. Sua partida deixa um grande vazio no coração de seus amigos, familiares, do seu companheiro de vida João Yuji e de toda a família da Chapada dos Veadeiros.
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros também prestou solidariedade. “Laryssa prestou grandes contribuições às pautas deste conselho e ao trabalho de educação ambiental na Chapada dos Veadeiros”, publicou a instituição.