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‘QUANDO UMA MULHER É MORTA, TODAS AS OUTRAS SÃO’, DIZ MAJOR BAIANA QUE CRIOU A RONDA MARIA DA PENHA

Em entrevista ao G1, Denice Santiago fala sobre trajetória de vida, sororidade e surgimento da operação que virou modelo no país e no mundo. Foto: Danutta Rodrigues/G1.

Romper o silêncio e assumir a autonomia de vida a partir da perspectiva da sororidade e prevenção garantidas pela Ronda Maria da Penha. Sob o comando da major Denice Santiago, a operação de combate à violência contra a mulher, criada na Bahia em 8 de março de 2015, segue esse lema e completa três anos inspirando corporações no Brasil e em Londres, na Inglaterra. São quase duas mil mulheres que agora encontram a possibilidade de enxergar novos caminhos.

“Até hoje, já foram 103 homens presos pela Ronda Maria da Penha. Eu costumo dizer que são 103 feminicídios a menos. Quando uma mulher é morta, todas as outras são”

Com discurso firme e feminista, Denice Santiago Santos do Rosário é símbolo da luta contra o machismo estrutural que norteia relações familiares. A responsabilidade com que carrega tantas histórias de mulheres submetidas às mais diversas formas de violência dá vez à mãe de João e esposa de Rafael durante entrevista especial ao G1. Entre uma conversa e outra, a major costura a história pessoal à trajetória profissional que trilha há quase 28 anos na Polícia Militar da Bahia.

A farda imponente não disfarça cada detalhe lilás dentro da sala onde trabalha. A cor usada nos movimentos feministas e na Ronda Maria da Penha ocupa diversos objetos, as viaturas e a estrutura da sede da operação. Em cima da mesa, bonecas negras, miniatura da Mulher Maravilha e uma imagem de Iansã, orixá dos ventos, raios e tempestades.

“Eu sou de áries com ascendente em escorpião. O astrólogo disse que nem o diabo pode. O ariano pode até não estar certo, mas nunca está errado. Sou filha de Iansã, ekedi [cargo feminino de grande valor no candomblé] de templo. É fogo, mas na maioria das vezes eu sou boazinha”, brinca.

Terceira filha de uma família com cinco irmãos, Denice conta nasceu da junção de um pai trabalhador, de pouca instrução, e uma mãe extremamente forte, como ela define. Sem muitos luxos na infância, o estudo sempre foi a palavra de ordem dentro de casa. A major conta que a primeira grande feminista com quem teve contato foi a mãe.

“Desde pequenininha eu ouvia ‘minha filha, você vai estudar, vai trabalhar, vai comprar sua casa, só depois você vai casar e ter filho, para não depender de homem. Porque mulher não pode depender de homem’. E ela vinha, contava essas histórias diuturnamente, e foi assim que aconteceu”, lembra Denice.