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REDEMOCRATIZAÇÃO, ANÍSIO TEIXEIRA E 2015

RAYMUNDO SÁ BARRETO

Raymundo Sá Barreto Neto é ilheense, estudante de Geografia na Uesc.
Raymundo Sá Barreto Neto é ilheense, e estudante universitário.

Janeiro de 1985, Brasil, 21 anos de regime militar. Ninguém aguentava mais. Janeiro 2015, 30 anos redemocratizando o Brasil, aqui estamos. Em que avançamos? O que ainda falta, para que de fato sejamos uma nação democrática?

O Brasil de 1985 clamava por liberdade política, por direitos civis, direitos humanos, e igualdade social. A mentalidade tecnicista do governo militar, fez com que os problemas sociais fossem abafados, com isso, aparentavam estarem sendo resolvidos, quando na verdade aumentavam.

O Brasil perdeu a oportunidade, no início dos anos 60, quando a maior parte de sua população, que era de pouco mais de 50 milhões de habitantes, vivia na zona rural, de realizar certas reformas políticas e agrarias propostas por João Goulart. Propostas formuladas a partir de demandas reais, surgidas da população.

Pretendia-se levar ao homem do campo, condições necessárias para que permanecessem nos seus locais de origem, por meio de uma política interna, que visava preservar a dignidade do cidadão. Para tal, estava previsto um programa educacional, na época elaborado por Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e outros, que valorizasse o ser humano e a cultura da qual ele fazia parte.

Muito bem, aguas passadas não movem moinhos. Acontece que o Brasil, a partir de 64, enveredou-se em projeto obscuro e incerto, onde foram abafadas as vozes populares, e regras foram ditadas e empurradas goela abaixo do cidadão brasileiro. Algum êxito, dizem ter tido. Também pudera, intransigentemente impuseram indústrias Brasil adentro, erguidas com conchavos mirabolantes, de maneira que nos tornamos uma potência econômica onde a maior parte da população foi excluída.

As consequências de tudo isso? Os anos 80 e 90 estão aí como prova.

Chegamos em pleno século 21, com a maior parte da população, agora de 200 milhões de habitantes, vivendo ainda em condições precárias. Apesar de um território onde existem condições ideais para o desenvolvimento humano, a sociedade brasileira ainda não conseguiu se organizar. Nas mais de 5.500 cidades espalhadas no território nacional, não há um modelo socioambiental, econômico e nem uma identidade cultural consolidada. Agora é que se reinicia o que foi interrompido nos anos 60.

Anísio Teixeira nascido no início do século 20, no sertão da Bahia, ainda jovem, viajou aos EUA, onde se surpreendeu com um pedagogo chamado John Dewey. Dewey havia descoberto o segredo para a formação de uma sociedade democrática, e Anísio fez desse segredo seu lema de vida.

Por isso pagou um preço alto, pois os mesmos que impediram Goulart nos anos 60 de fazer as transformações necessárias na sociedade brasileira, tiraram sua vida nos anos 70, no auge de sua maturidade aos 71 anos de idade. O segredo de Dewey é: Uma sociedade democrática começa pela escola.

Pois bem, aqui estamos a construir a nova escola. Não nos serve mais aquela que um dia foi puramente tecnicista, que suprimia os direitos de todo um povo, que não era para todos.

Anísio Teixeira está mais presente ainda hoje. Ele renasce cada vez que a escola é mais humana, Cada vez que a técnica é usada para libertar o homem das amarras de um sistema apodrecido, e não mais pra que o homem a use pra dominar os seus semelhantes.

Quem tiver olhos para ver que veja. Uma nova escola vem surgindo, e com ela uma nova sociedade. O velho homem, agora criança, vem aprender a replantar as árvores da nova floresta.

Detalhe: Essa escola tem que ser erguida por todos e para todos.

És ela a democracia!