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REFORMA URBANA E DESONERAÇÃO DA CLASSE MÉDIA

Por Israel Nunes, Procurador Federal e professor

israel artigoFoi a reação da Polícia Militar no Governo do PSDB no principal Estado do país que ocasionou o agigantamento dessas mesmas manifestações

Um milhão de pessoas nas ruas. Contra o aumento da passagem. Contra a corrupção. Por mais saúde. Por mais educação. Por mais segurança. Por uma foto com cartaz engraçado para postar no facebook. Porque os colegas de escola e da universidade também foram. Por todos os motivos antes mencionados. E por nenhum deles também.
Em ciências sociais, se diz que que o objetivo é a compreensão do fenômeno, não a explicação. A explicação é mais própria das ciências naturais, o que envolve demonstração de causas e efeitos. A compreensão está para o estabelecimento de sentido, de significado da coisa em si.
Ainda é cedo para estabelecer o significado das manifestações. Mas é tarde para não tentar fazê-lo, ou corre-se o risco de perder o caminhar da História.
Uma parte desse significado tem prazo para ser conhecido: outubro de 2014. Qual será o reflexo disso nas eleições? Nem a direita nem a esquerda sabem. Foi o aumento da passagem no Governo Municipal do PT na principal cidade do país que iniciou as manifestações. Foi a reação da Polícia Militar no Governo do PSDB no principal Estado do país que ocasionou o agigantamento dessas mesmas manifestações.

Entrando no conteúdo econômico das manifestações, como em sua grande maioria o setor presente era a classe média, algumas observações são passíveis de serem feitas, além do próprio aumento no preço da passagem. A pressão inflacionária deteriora as condições de vida da classe média mais do que as demais classes, pois ela não recebe subsídios governamentais, tal como os muito ricos e os muito pobres, nem tem seus rendimentos atrelados à inflação ou ao PIB, como tem quem ganha um salário mínimo. A classe média, que usa os serviços de trabalhadores domésticos, viu-se premida, recentemente, por um aumento desse custo sem qualquer contrapartida governamental.
No plano político, é preciso lembrar que os partidos políticos, nos seus programas partidários, somente contemplam as pautas da classe média de maneira oblíqua, nunca diretamente, como o fazem com relação a patrões e empregados, de direita ou de esquerda, ou partidos que defendem uma bandeira muito específica, como o Partido Verde e os partidos de base evangélica. A classe média, formada por profissionais liberais, tais como advogados, médicos, arquitetos, alguns servidores de alto escalão, gerentes empregados de empresas e pequenos empreendedores, não tem representação política. Definitivamente, para ser jocoso, Marco Feliciano não representa a classe média. Residindo em condomínios de apartamentos nas grandes e médias cidades, a classe média quer menos trânsito, mais área verde nas cidades, mais oportunidades de consumir cultura e lazer e menos imposto de renda incidente sobre a pessoa física – o IRPF. A reforma urbana e a redução dos encargos sobre esse setor são pontos cruciais.
Chegando nesses dois últimos pontos, volta-se a 2014. Ou melhor, vai-se a 2014. Terão maiores chances eleitorais aqueles que incorporarem no seu programa as demandas da classe média, não indiretamente, mas uma abordagem clara e objetiva. Quem está no governo, deve tomar medidas imediatas, de modo a promover as melhorias urbanas imediatamente e aliviar financeiramente esse setor. Quem está na oposição, explorar as falhas dos Governos nisso e incorporar ao discurso essas pautas.
O Governo deve agir rápido, ou no ano que vem o junho de 2013 irá se repetir.