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REGISTRO DE CRIMES FAMÉLICOS AUMENTAM NA BAHIA

O desemprego e a crise econômica que atingiram a mesa dos brasileiros, agravados durante a pandemia da Covid-19, têm provocado aumento de casos de crimes famélicos, aqueles motivados pela fome, como furtos de comida.

Em alguns estados, como Goiás, Ceará, Rio Grande do Sul, São Paulo e no Rio de Janeiro, ainda que sem estatística oficial, estima-se ter até dobrado os atendimentos a detidos por furto de itens como carne, manteiga, papel higiênico e desodorante, se comparados ao período anterior à crise sanitária.

Em fevereiro deste ano, um homem foi preso, em Salvador, após supostamente tentar furtar dois pacotes de carne, além de dois desodorantes. O suspeito havia sido imobilizado por um cliente da rede de supermercados Atakarejo, no bairro da Boca do Rio, sem interferência da segurança do estabelecimento, até a intervenção da polícia.

Para a defensora pública Fabíola Pacheco, que atua na Bahia, há subnotificação dos casos. “Em boa parte dos furtos, a polícia nem sequer é acionada para iniciar os trâmites legais. Os seguranças dos estabelecimentos tomam iniciativa própria de resolverem a situação e nem sempre o desfecho é dos melhores.”

Foi o que ocorreu, segundo a polícia, com Bruno Barros da Silva, 29, e Yan, tio e sobrinho, respectivamente, que acabaram mortos com mais de 30 tiros, por causa de quatro pacotes de carne. Ambos foram pegos por funcionários do Atakarejo de Amaralina, em Salvador, em uma suposta tentativa de furto dos produtos. Na ocasião, em vez de acionar a polícia, alguns funcionários espancaram a dupla. Depois, entregaram os dois a um grupo ligado a facções da região, onde foram mortos.

Treze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público. A Justiça baiana acatou a denúncia. O processo se encontra em fase de instrução criminal para produção e apresentação de provas.

A fome assombra a família, que vive em um barraco de madeira para quatro pessoas. Por meses, sobreviveram com R$ 400 do extinto Bolsa Família -atual Auxílio Brasil-, porque Elaine não conseguia trabalhar. Depois que voltou à venda dos produtos de limpeza, o orçamento chega a uma média de R$ 600 por mês.

“Fiquei muito tempo sem conseguir dormir, só chorava. Tive que tirar forças de onde não tinha, porque, infelizmente, eu tenho que ser mãe e pai de minhas duas filhas”, diz. “Tenho que manter elas, ajeitar escola, tudo.”

Na Bahia, de março de 2020, início da pandemia, a janeiro deste ano, 108 casos de crimes famélicos foram registrados no sistema do tribunal: 54 em 2020; 51 em 2021; três neste ano, até janeiro. O perfil de quem comete furto de comida é quase sempre o mesmo: pessoas em situação de vulnerabilidade social, desempregadas, negras, mulheres chefes de famílias, moradoras das periferias ou em situação de rua.