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SOBREVIVENDO ÀS ELEIÇÕES

JULIO GOMES

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

O poder sempre foi objeto de disputa entre os seres humanos, desde os mais remotos agrupamentos humanos nômades, que viviam da caça e da coleta de frutos e raízes; desde as primeiras comunidades agrícolas recém sedentarizadas.

Naquela época o poder era disputado para garantir o acesso a coisas hoje inimagináveis, como o direito de escolher a melhor parte do animal abatido e de comer primeiro; ou de armazenar, em nome dos deuses, o pouco de excedente agrícola eventualmente produzido, sob o pretexto de usá-lo em um momento de fome coletiva, que sempre viria.

Entretanto, fosse para possuir mulheres ou para vestir uma roupa tida como melhor, o fato é que a disputa pelo poder sempre existiu, e sempre foi feita com brutalidade, injustiças, violências, guerras e mortes, muitas mortes.

É exatamente por isso que, quando em uma determinada polis (cidade-estado) grega, bem antes de Cristo, os cidadãos concordaram em escolher o novo ocupante do poder mediante uma manifestação da vontade individual de cada cidadão daquela comunidade, expressa por meio de um voto, posteriormente contabilizado para que se entregasse o exercício do poder, consensualmente, ao candidato que tivesse mais votos, isto foi uma verdadeira revolução!

Ungida e abençoada a forma de disputa de poder que nos foi deixada pelos gregos! Não seria mais necessária uma batalha campal entre dois exércitos para, após a perda de centenas ou milhares de vidas de combatentes, após a morte de milhares ou milhões de pais, filhos, maridos, anciãos e jovens, seguidas da expropriação, estupro, escravização ou extermínio das populações civis dos vencidos, determinar-se – de arma em punho e suja de sangue – quem se sentaria no trono do poder.

É por isso que o advento das eleições, mesmo com eventuais abusos de poder e com alguns momentos particularmente lamentáveis, não deixa de representar um tremendo avanço nas relações entre os humanos.

Encerrou-se, no Brasil, a eleição presidencial. Contabilizados os votos, o poder será entregue ao que ganhou, ainda que por margem relativamente pequena. Ao vitorioso caberá o direito de exercer o governo, e ao vencido será garantido o sagrado direito não só de prosseguir em sua vida política como também de fazer oposição ao eleito e de disputar novamente, daqui a quatro anos, o mesmo cargo almejado.

Quanto a nós, simples cidadãos, mais ou menos afortunados – que antes teríamos morrido aos montes como soldados ou jagunços dos senhores em disputa pelo poder – também prosseguiremos em nossas vidas, em nosso trabalho, em nosso convívio familiar, sem que nossas mães chorem nossa ausência eterna e sem deixar órfãos aos nossos filhos.

É em razão de fatos como este que a democracia tornou-se um bem de valor universal. E que as eleições são, a um só tempo, expressão e a afirmação da Democracia