No último dia 20 de novembro, o Studio de Dança Eliana Fonseca, localizado em Ilhéus, marcou o Dia Nacional da Consciência Negra com uma exposição impactante que retratou a trajetória e as conquistas de bailarinos negros na cidade. Reconhecida por seu pioneirismo, a escola é referência na promoção da inclusão e representatividade no ballet clássico, um espaço historicamente elitizado e dominado por padrões eurocêntricos.
A exposição reúne fotografias, livros que contaram histórias dos afrodescentes em diáspora, com riqueza de detalhes, cores vibrantes e muita informação. A curadoria do evento ficou com os bailarinos que foram envolvidos na atividade desde o 1 ano e 8 meses até os adultos. Entre os destaques, estavam muitas pinturas produzidas pela turma do Baby Fralda, muitas bonecas que chamaram a atenção dos visitantes, em especial das crianças que se viram representadas.
O Studio E, surge da necessidade de acolhimento e valorização das bailarinas e bailarinos negras (os), a Diretora Eliana Fonseca nos conta ainda que: “sofreu muito preconceito durante a infância por ser a única bailarina negra, e por conta disso era sempre colocada ao fundo do palco” e quando surgiu a
oportunidade de abrir sua escola, após se capacitar para, teve como missão mostrar que o ballet clássico também é lugar de pessoas pretas, e nesse sentido um grande avanço foi a adoção pela escola de sapatilhas e meias no tom da pele negra, um símbolo de resistência e pertencimento. Essa prática, adotada pelo Studio E, que parece simples, entretanto rompe com o padrão tradicional do ballet clássico, que há séculos uniformizou os acessórios de dança em tons rosados, invisibilizando bailarinos de pele escura de ter o sentimento de pertencimento, antigamente para tê-las num tom adequado, era preciso pintá-las, e com isso as sapatilhas reduziam sua vida útil.
A Diretora nos explica que a decisão de implementar as sapatilhas e meias nos tons de pele negra vai além da estética. “É sobre dar aos nossos bailarinos a oportunidade de se enxergarem na arte, de ocuparem o palco com dignidade, de quebrar estereótipos. O ballet pode e deve acolher a diversidade”, afirmou.
Além da exposição, o evento contou com apresentações e workshop de Capoeira, Hip-Hop e Dança Afro-brasileira. Outra importante ação foi a distribuição de livrinhos de Afrobetização do projeto desenvolvido pela Profa. Bia Barreto intitulado “Corporalidades Afrodiaspóricas numa Caligrafia Afrobetizada”, outro ponto alto foi a distribuição para as bailarinas de adereços voltados para a temática. O Studio E tem em seu corpo de baile, alunas bolsistas socioeconomicamente vulneráveis, e em sua grande maioria bailarinas (os) negros, que através de uma audição anual tem a possibilidade de ter aulas com bolsas integrais. E essa atitude vem demonstrando como a arte pode transformar vidas.
Além das aulas de ballet, o Studio oferece suporte psicológico, nutricional e projetos de incentivo à leitura, reforçando o compromisso com a valorização das raízes e identidades negras.
A exposição emocionou o público e reafirmou o papel do Studio de Dança Eliana Fonseca como agente de transformação social e cultural. Para os visitantes, foi uma oportunidade de reconhecer que, na dança, assim como na sociedade, a diversidade é essencial para criar um futuro mais justo e representativo.