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SUBESTIMAR O POVO, UMA PÉSSIMA TENDÊNCIA

Por Elisabeth Zorgetz, ilheense, membro do Coletivo Reúne Ilhéus e graduanda em História

elisabethO poder público não pode alienar a si próprio dessa construção. Antropologicamente falando, não apresentamos diferença alguma! A representatividade democrática faria muito bem em abandonar esse perfil forasteiro e retornar ao povo, ventre de onde todos saíram. Menosprezar a inteligência popular, meus senhores, é de uma vilania tão burra que está fadada ao fracasso.

Existe uma ideia mal calculada no ar. Ela se reproduz, despreocupadamente, irresponsavelmente,  alcançando, com virulência, o valor de opinião do poder público sobre o povo. O período histórico em que as gerações vivas estão inseridas ousou denominar a si mesmo como contemporâneo, durável, permanente, imediatista. Foi uma proposta audaciosa e estamos, a todo o momento, provando sua validade.
A História, como é bem explorada pelos grandes cátedras da historiografia e teoria, se desvela numa operação incrustada de variáveis, medições temporais, dados quantitativos e qualitativos sobre as ações coletivas. A história biográfica só comunica porque sempre há um coletivo por trás (ou pela frente) de um indivíduo, seja ele quem for. Mas a história é propriedade e instrumento do povo e, meritoriamente, seu maior trabalho.
Ofender as massas é ofender a história magistra, a história mestre da vida. Ofender a inteligência do povo é o posicionamento mais infeliz a se colocar nesse processo histórico. É bonito de se ver as grandes revoluções entremeadas em nossos braços, erguidos pela luta popular. Mas a revolução só será escrita num tempo além de nós, ainda não conhecemos seus verdadeiros pactos. Podemos, no entanto, nos orgulhar absolutamente da integração, da reaproximação desse homem contemporâneo e brasileiro à sociabilidade pelo bem comum.

Pelo entendimento desse tal bem comum, um conceito tão remoto para muitos. Pela aproximação da juventude ilheense à comunhão de valorosas abstrações. Esse homem contemporâneo, brasileiro, ilheense, aos poucos, se dá conta que está agindo sobre a história, está fazendo a história, não mais apenas a papeando sem muitos compromissos técnicos. Somente essa percepção desencadeia a mudança, esse olhar sobre o horizonte factual.
Será a Idade Contemporânea a longa duração das revoluções? Será o imediatismo do quarto poder um instrumento de permanência na descoberta do outro? O outro social é aquele elemento que sempre esteve distante dos discursos e das práticas, é aquele que passamos, hoje, a reconhecer por suas intervenções e experiências. Todos somos um pouco desses outros num levante popular. Um outro que revela a perspicácia do povo continuamente. Surpreendemos-nos com o outro, e assim, cada um, consigo mesmo.
O poder público não pode alienar a si próprio dessa construção. Antropologicamente falando, não apresentamos diferença alguma! A representatividade democrática faria muito bem em abandonar esse perfil forasteiro e retornar ao povo, ventre de onde todos saíram. Menosprezar a inteligência popular, meus senhores, é de uma vilania tão burra que está fadada ao fracasso.
Essa segunda-feira, dia 8 de julho, o Reúne Ilhéus recebeu a documentação referente ao transporte coletivo, entregue diretamente das mãos do Chefe de Gabinete e Secretário de Desenvolvimento Urbano, num momento apressado e impaciente. Um item dessa documentação, sobre o qual frisamos a necessidade, eram os balancetes das empresas que participam da prestação de serviço. Esse documento não compareceu. Acusaram-nos de suposições isentas de avaliação de dados. E onde estão os dados?
O Secretário garantiu que um pedido a Procuradoria Geral foi feito para garantir a entrega desses balancetes de acordo com o Contrato de Concessão, sem prazos ou estimativas. No entanto, após uma breve leitura do mesmo, ainda no mesmo dia, nossa Comissão de Documentação encontrou o item que obrigava o acesso aos balancetes. O que devemos prever? A administração pública não conhece o Contrato de Concessão do transporte coletivo? Agiram de má fé? As perguntas estão sendo feitas, os documentos estão sendo requeridos. Enquanto não houver honestidade e boa comunicação, trabalharemos sobre suposições, infelizmente. Por isso, aconselhamos, por um esforço em relembrar o papel dos eleitos: não subestimem seu povo, não façam isso.