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“SURPRESAS” DE UM “NOVO” GOVERNO

LUCAS GALINDO

 Lucas Galindo é militante da União da Juventude Socialista (UJS) e diretor de Juventude da Federação dos Bancários BA/SE.
Lucas Galindo é militante da União da Juventude Socialista (UJS) e diretor de Juventude da Federação dos Bancários BA/SE.

As sistemáticas concessões a opositores, feitas pelo projeto popular, que assegurou mais quatro anos de governo ao vencer uma acirrada (por vezes ameaçada) disputa eleitoral, não chegam a ser surpreendentes ainda que estarrecedoras. Mesmo tendo como principal trunfo o apoio maciço dos setores ligados às causas democráticas e de inclusão social, prevalece um temor excessivo às ameaças de golpe perpetradas pela direita através de seu aparato midiático de amplo alcance. Uma justificativa válida, cuja resposta é incoerente quando se quer anular uma direita sedenta com gradativas pequenas doses de sobrevida.

Não surpreende justamente porque o resultado do segundo turno das eleições de 2014 revela muito mais uma rejeição ao PSDB do que propriamente uma adesão ao projeto liderado pelo PT, que ao acender vela a deus e ao diabo, alimenta a própria contradição que corrói sua popularidade. À esquerda, restam como decisivos os mesmos grandes desafios que estariam postos caso houvesse sido nomeado uma equipe ministerial menos conservadora: lutar por uma reforma que possibilite uma reaproximação do povo à política (ou seja, no mínimo com o fim do financiamento privado de campanhas); e sobretudo, resgatar o interesse efetivo pela disputa cotidiana de ideias nos espaços de organização coletiva.


Não que a esquerda tenha aberto mão de participar dos movimentos sociais, mas na medida em que não o priorizou em detrimento à esfera institucional (chegando a deslocar, de forma absurdamente artificial, algumas das principais lideranças populares para cumprir tarefas burocráticas na chamada “experiência de governo”), abriu flanco para a despolitização generalizada – principalmente dos setores médios – que se verificou nos debates mais cruciais do ano que se encerra.

A oportunidade de participar de um governo que dialoga com os trabalhadores em condições mais favoráveis do que as anteriores é ótima, só não pode ser sedutora a ponto de causar a ilusão de que a luta de classes está resolvida. Se o governo se orgulha de representar a mais eclética das coalizões, às ruas disputar as concessões!