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VAI TER COPA SIM!

Gabriel Nascimento é professor.
Gabriel Nascimento é professor.
Esse papo de que não vai ter Copa é negócio de uma turma sem pauta de lutas na história brasileira. Nunca acompanharam a luta dos trabalhadores rurais sem terra, nem os movimentos que protagonizam o processo por mais investimento na educação nacional. Não foram eles que lutaram pelas ações afirmativas e quase sempre só esvaziam os debates públicos dos movimentos sociais.
Vai ter Copa sim! E a Copa não protagoniza a acentuação das contradições. Em primeiro lugar, na falta de clareza, esses grupos confundem dinheiro público com dinheiro emprestado por um banco público, o BNDES. Os recursos investidos em educação e saúde anualmente possibilitariam a construção de cerca de 16 copas do mundo. O dinheiro que constrói escolas não é o mesmo que foi usado para construir a maioria dos estádios. Um vem diretamente dos impostos dos cidadãos, recolhido por dois fundos nacionais específicos que distinguem e ditam qual será o quanto a cada ano precisa ser investido a mais na área. Esse é o que é usado para construir escolas e unidades do SUS. O outro é empréstimo de um banco que, como qualquer outro banco, empresta para cobrar depois, fazendo a ressalva aos investimentos dos entes federados e das parcerias público-privadas. Chega a soar absurdo confundir os 53% financiados pelo banco nos estádios da Copa com o recolhido pelos impostos. Banco é banco. E o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social foi fundado para isso.
A falta de pauta desses grupos é latente. Ou fazem parte de um grupo populacional que assiste e acredita veemente no que vê na Globo, lê nos grandes jornais, a exemplo de Folha, Estadão, Jornal A Tarde, Correio, entre os demais, e é viciado nas páginas amarelas da Veja. Ou é uma extrema-esquerda, representada pelo PSOL/PSTU/PCB, esvaziada politicamente e que tem levado dezenas de pessoas às ruas sem formação política acerca das pautas históricas da esquerda. As pessoas que vão às ruas contra a Copa não lutaram ano passado pelos 75% dos royalties do Pré-sal para a Educação pública (defesa dos movimentos sociais e da presidenta Dilma devidamente vitoriosa e sancionada) e nem são as mesmas que fazem pressão para que o projeto de lei do Plano Nacional de Educação, em tramitação no congresso nacional, reserve 10% do PIB para investimento na educação. Estão unicamente contra a Copa porque o Brasil foi escolhido como sede durante o governo do PT.

O ódio é ao PT. Mas não aos erros do PT, como a amortização dos juros da dívida pública. O ódio é aos acertos do projeto de esquerda que se estabelece nos país dentro de um governo de centro-esquerda. O mesmo PT que fez o índice de desemprego e desigualdade cair, chegando ao patamar de 10% de desemprego segundo o DIEESE e 4,5% segundo o IBGE, ressaltando dois recortes metodológicos de pesquisa. Esse índice de desemprego no governo tucano de FHC chegava a taxas altíssimas. Após 15 milhões de vagas reais de emprego geradas no governo Lula, 4 milhões de empregos foram gerados num único semestre de governo Dilma, sendo superior a todo o governo FHC.
O Fora Copa não está nem aí para as contradições do país. Falam da saúde, mas não acompanham o Portal da Transparência e nem os crescentes investimentos na área. Não sabem ou, por má fé, não reconhecem que todos os entes federados são responsáveis pela educação e saúde, mas não é o Governo Federal o principal ente federado competido para executar obras de educação e saúde nos municípios e estados. Cada ente federado competido de executar e prestar contas, o que inclui, necessariamente, estados e municípios, precisa fazer sua parte. Já vi muita gente metida a intelectual dizer asneiras do tipo “A Educação não vai à frente por causa desse governo do PT”. É do tipo de gente que elege como prefeito um candidato de direita que deixa de investir os 25% de impostos municipais em educação, obrigados pela legislação.
O Fora Copa não tem pauta. Trata-se de um coro de natureza golpista perfilado pela grande imprensa e por setores traidores dos movimentos sociais que se batizam de nova esquerda, mas que vomitam por aí o abecedário inconsequente da greve pela greve, do barulho pelo barulho. A grande imprensa tem reais interesses eleitoreiros e um candidato fracassado politicamente por ser impopular: Aécio Neves. Precisa bater em Dilma para fazê-lo crescer onde o PT só cresce: no Nordeste. Esses ditos traidores dos movimentos sociais fazem parte de uma súcia que despolitiza os sindicatos e associações a ponto de convocar uma greve sem tentativa de negociação anterior à mesma. Não reconhecem os avanços sociais de dez anos de governos pós-neoliberais e falam como se o roteiro neoliberal estivesse avançando no Brasil. Não sabem a diferença entre privatização e concessão (ainda que reconheçamos os problemas da concessão) e nem querem entender a diferença entre sistema de partilha e privatização de uma empresa pública. Chega a ser vergonhoso enfrentar esse tipo de debate.
Com investimentos na casa própria, criação de mais universidades visando sua interiorização multicampi com qualidade, financiamento para exterminar a extrema-pobreza e combater as desigualdades, mais processos de contratação via concurso, fortalecimento das instituições públicas, transparência e ataque à corrupção ao autonomizar as autarquias como Polícia Federal e Ministério Público, valorização do salário mínimo e combate à inflação, é preciso que eles saibam: quem vai sair perdendo é o coro contra a Copa.